Título: Alagoas elege Collor para senador e terá 2º turno
Autor: Mandl, Carolina
Fonte: Valor Econômico, 02/10/2006, Política, p. A15

O ex-presidente Fernando Collor de Mello, eleito ontem senador pelo PRTB, reconquistando um cargo representativo exatamente 14 anos depois de ter sofrido um processo de impeachment e ter deixado o governo, acusado de ter cometido irregularidades, defendeu, ao votar, a adoção do parlamentarismo no Brasil. Na primeira vez em que cedeu ao assédio dos jornalistas desde que se candidatou ao Senado Federal, há pouco mais de um mês, Collor disse que a adoção do sistema parlamentar, do voto distrital e da fidelidade partidária deveriam ser itens de uma reforma partidária a ser feita na próxima legislatura.

Para o governo de Alagoas, haverá segundo turno entre os usineiros João Lyra (PTB) e Teotônio Vilela Filho (PSDB). Até às 21h de ontem, com 88,08% das urnas apuradas, Teotônio contava com 55,95% dos votos válidos e Lyra com 30,66%, segundo o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do Estado. Já para o Senado, Collor respondia por 44,17% e Ronaldo Lessa (PDT), por 39,95%.

Questionado sobre se no parlamentarismo teria evitado o episódio do mensalão, Collor respondeu: "Não sei, mas melhoraria a representação no Congresso Nacional e faria com que a relação entre o Congresso e o Executivo fosse mais republicana." Collor disse não temer pela aceitação do seu retorno a Brasília e não respondeu a uma pergunta sobre se votaria a favor do impeachment do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O ex-presidente votou de manhã, no Colégio Imaculada Conceição, bairro de Pajuçara, e tentou aguardar na fila a hora de votar. Como sua presença gerou um enorme tumulto no local de votação, ele foi convencido pelos mesários a usar a prerrogativa da prioridade. Um dos filhos de Collor, Fernando James, foi detido com material de campanha no carro e solto em seguida.

Dois episódios de violência marcaram as horas que antecederam as eleições em Alagoas, precedidas de um clima de tensão que levou o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a requisitar tropas federais para garantir a segurança em 20 dos 102 municípios. Ainda na sexta-feira, detentos do presídio de segurança máxima Baldomero Cavalcanti, na capital, iniciaram uma rebelião por melhores condições carcerárias, fazendo cinco reféns. Até a noite de ontem a rebelião não havia sido dominada.

Na madrugada do sábado, quatro homens mascarados dispararam tiros contra a casa do presidente regional do PPS, Régis Cavalcanti, candidato a deputado federal. O caseiro Antônio Cardoso enfrentou os agressores e foi ferido com um tiro no pé. Até ontem à noite não estavam esclarecidas as causas do ataque, que pode ter sido um assalto.

As eleições propriamente ditas acabaram sendo tranqüilas, com longas filas se formando desde o início da manhã nos locais de votação, mas sem registro de incidentes graves, segundo informou no fim da tarde o TRE de Alagoas. Os dois candidatos a governador que se enfrentarão do segundo turno, Lyra e Vilela, votaram no mesmo local, o Iate Club Pajuçara. Vilela estava acompanhado de um dos seus principais cabos eleitorais, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB). No sábado, os dois estavam em um helicóptero que fez um pouso forçado na cidade de Arapiraca. Calheiros chegou a falar na hipótese de sabotagem. As causas do acidente ainda estão sendo investigadas.