Título: Disputa acirrada leva ao 2º turno em PE
Autor: Mandl, Carolina
Fonte: Valor Econômico, 02/10/2006, Política, p. A15

A disputa pelo governo de Pernambuco se dará entre o atual governador Mendonça Filho (PFL) e Eduardo Campos (PSB), replicando, numa versão moderna, a clássica disputa entre Jarbas Vasconcelos (PMDB) e Miguel Arraes (PSB) no Estado. É a primeira vez desde a implantação do segundo turno em 1988 que uma eleição a governo não se encerra na primeira votação em Pernambuco. Até o fechamento desta edição, às 22h40, o candidato do PFL, apoiado por Jarbas, tinha 39,29% dos votos. Eduardo, neto de Arraes, estava com 33,83%. Cerca de 99,46% de todos os votos já tinham sido apurados no Estado.

A diferença de poucos pontos percentuais entre os dois candidatos deve acentuar ainda mais o tom de agressividade que marcou as campanhas do primeiro turno. Humberto Costa (PT), que começou a disputa como o segundo colocado nas pesquisas, acabou derrotado nas urnas, com 25,15% dos votos. Depois de ser indiciado em agosto pela Polícia Federal por suposto envolvimento num esquema de fraude para a compra de hemoderivados (operação vampiro) durante sua passagem pelo Ministério da Saúde, o candidato do PT não conseguiu mais ganhar votos.

Eduardo, por outro lado, ganhou votos principalmente dos indecisos. Em entrevista coletiva ontem à noite, Humberto se colocou à disposição do candidato do PSB. Amanhã, ele se reunirá com a aliança que formou - PC do B, PAN, PMN, PTB - para dizer aos partidos que apoiará Eduardo e convencê-los a seguir o mesmo caminho.

Nas campanhas em televisão e rádio, a rivalidade entre os candidatos se dará pela lembrança dos governos Jarbas e Arraes. A propaganda de Eduardo tentará destruir a ligação de Mendonça a Jarbas, eleito senador com 56% dos votos. A interpretação da campanha do PSB é que toda a imagem do governador foi construída como se ele fosse uma cópia do ex-governador. Ao desvincular ambos, a população ficaria sem a referência de quem é Mendonça e poderá mudar seu voto. Já o PFL tentará comparar os feitos do governo de Arraes, do qual Eduardo foi secretário de Governo e da Fazenda, com os de Jarbas em 1998 e 2002, que por sua vez teve Mendonça como vice. "Vamos demonstrar os descaminhos aos quais ele levou Pernambuco", disse Mendonça. Durante as campanhas de rua, por onde Eduardo passasse, as pessoas faziam referência a seu avô, falecido no ano passado. Alguns pontos de seu programa de governo, por exemplo, seguem o modelos adotados por Arraes.

Acusações também virão à tona. Durante praticamente todo o primeiro turno, Eduardo foi poupado dos ataques de Mendonça. Como Humberto aparecia nas pesquisas na segunda colocação, toda a artilharia de Mendonça se direcionou a ele.

Com a reversão do cenário, o partido do governador deve explorar, por exemplo, o fato de Eduardo ter sido acusado em 1996 de se beneficiar com operações de títulos públicos (precatórios). Como Eduardo foi inocentado do caso, o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) havia proibido o uso eleitoral do episódio. Mas, na última quinta-feira, essa decisão foi alterada. "Ele (Eduardo) não vai levar para debaixo do tapete. Terá de tirar os precatórios", afirmou Mendonça ontem à noite, demonstrando o tom que a campanha deve seguir.

Essa foi a primeira vez em Pernambuco que a campanha contou com a esquerda dividida em duas candidaturas. Se Eduardo conseguisse transferir todos os votos de Humberto para si, teria mais de 55% dos votos. Por esse motivo, a disputa entre os candidatos se dará também na busca por aliados. Na interpretação do PSB, há importantes lideranças políticas que apoiaram Mendonça no primeiro turno e que agora podem mudar de lado, principalmente do PSDB e do PTB. Mas a aliança de Mendonça, a União por Pernambuco, também sairá à procura de quem apoiou Humberto no primeiro turno. Para o PSB pode ser favorável a disputa pela Presidência no segundo turno, ainda indefinida até o fechamento desta edição. Isso poderia determinar uma forma mais ativa de apoio do PT pernambucano a Eduardo.

Nas eleições de 2002, Jarbas venceu Humberto na disputa pelo governo com 60% dos votos dos pernambucanos logo no primeiro turno.