Título: Sarney obtém seu 3º mandato para o Senado no Amapá
Autor: Moreira, Talita
Fonte: Valor Econômico, 02/10/2006, Política, p. A17

O senador José Sarney (PMDB) conquistou ontem seu terceiro mandado consecutivo pelo Amapá, numa disputa acalorada com a desconhecida Cristina Almeida (PSB) e marcada por ataques do ex-presidente da República a veículos de imprensa.

Às 22h35, com 99,99% da apuração concluída, Sarney estava reeleito com 53,87% dos votos válidos, enquanto Cristina - militante do movimento negro e ex-superintendente do Incra - apresentava 43,59%. Em seguida, de longe, Celisa Melo (PSOL), aparecia com 1,27% dos votos.

A trajetória do ex-presidente nestas eleições foi mais difícil do que nos anos anteriores. Maranhense, o peemedebista teve de marcar presença em eventos de campanha no Estado para angariar votos - algo que não aconteceu com a mesma intensidade nas duas outras vezes.

Além disso, Sarney envolveu-se numa polêmica após ter conseguido que o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) tirasse do ar blogs, um site e uma rádio, alegando que veiculavam informações ofensivas a ele. Um desses blogs, o da jornalista Alcinéia Cavalcante, citava discretamente a vitória de Sarney ontem à noite, sem maiores comentários.

Pela manhã, enquanto aguardava sua vez a seção eleitoral em que votou, Cristina disse que, independentemente do resultado, sentia-se vitoriosa por ter disputado a vaga para o Senado com Sarney de igual para igual.

O apoio do PT de Luiz Inácio Lula da Silva foi decisivo na disputa amapense - fator que pesou tanto no Senado quanto na corrida para o governo local.

Aliado de Sarney, o governador Antônio Waldez de Góes (PDT) conseguiu se reeleger no primeiro turno sem dificuldades, com 53,69% dos votos válidos. Seu maior adversário, João Capiberibe (PSB), ficou em segundo lugar, com 37,70%, seguido por João Papaléo (PSDB), com 3,61%.

Sarney e Waldez tiveram o apoio indireto de Lula. Por causa da regra da verticalização das coligações, o PT não pôde dar seu apoio oficial aos candidatos, mas o fez informalmente. O PSB de Capiberibe, que integra a coligação pela reeleição de Lula, foi preterido pelos petistas na campanha local.

O curioso é que, pela primeira vez, Sarney e Lula entraram alinhados numa disputa eleitoral. Nos pleitos anteriores, o peemedebista sempre teve de arcar com a oposição do atual presidente. O PT costumava compor alianças no Estado com Capiberibe.

Tanto Sarney como o governador reeleito não são naturais do Amapá. O senador é maranhense, enquanto Waldez, de 42 anos, nasceu em Gurupá (PA). A definição em primeiro turno das eleições para o governo é inédita no Estado.

Outro fato inusitado no Amapá foi a preponderância feminina na eleição para a Câmara dos Deputados. São mulheres as quatro candidatas mais votadas. Janete (PSB), esposa de Capiberibe, foi a campeã de votos, com 10,34% dos válidos. Na seqüência, elegeram-se Fátima Pelaes (PMDB), com 6,10%, Professora Dalva (PT), com 6,06%, e Lucenira Pimentel (PPS), com 5,46%.

Dessa forma, metade da bancada de oito deputados do Amapá na Câmara será composta de mulheres. É a primeira vez que isso ocorre na história brasileira, em qualquer Estado.

O eleitor penalizou candidatos que tiveram seus nomes vinculados ao escândalo dos sanguessugas. Os deputados federais Coronel Alves (PL), Benedito Dias (PP) e Eduardo Seabra (PTB) não conseguiram de reeleger.

Se a corrida presidencial fosse concentrada apenas no Amapá, Lula teria vencido no primeiro turno com 54,40% dos votos válidos. O índice de abstenção entre os eleitores amapenses ficou em 14,28%, muito parecido com o que foi registrado no pleito de 2002.

A campanha no Estado foi marcada por denúncias de irregularidades, que poderão ter desdobramentos futuros. O Ministério Público (MP) move ação contra Waldez sob as acusações de compra de votos e uso da máquina pública em atos eleitorais. No ano passado, Capiberibe teve o mandato de senador cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) devido a uma acusação de compra de votos.