Título: Dez bancos concentram 74% das operações de câmbio
Autor: Campos , Eduardo
Fonte: Valor Econômico, 30/07/2012, Finanças, p. C14

O mercado de câmbio brasileiro encerrou o primeiro semestre com 157 instituições, que movimentaram US$ 1,687 trilhão. No entanto, a grande maioria desses bancos e corretoras brigaram por menos de 30% do mercado, já que as dez maiores instituições giraram 74% desse volume, replicando, em certa medida, a concentração que se observa no negócio bancário no Brasil. Em igual período de 2011, a concentração era praticamente a mesma, 72%. Entre os principais participantes, chamou atenção o avanço do J.P. Morgan em todas as linhas de comparação. No ranking geral, o banco estrangeiro saiu da 14ª colocação para o terceiro lugar.

A instituição líder no semestre foi, entretanto, o Santander, com volume geral de US$ 188,671 bilhões, considerando as operações no chamado mercado primário (comércio exterior, remessas e ingresso) e giro interbancário. No acumulado do primeiro semestre de 2011, o banco ocupava a quarta colocação (veja quadro).

A listagem é compilada pelo Banco Central (BC), mas se considerarmos Itaú Unibanco e Itaú BBA como uma única empresa, não há espaço para mais ninguém. O grupo respondeu por US$ 280 bilhões no semestre, ou 17% do mercado.

Considerando-se apenas o mercado primário, o mais relevante, pois a instituição é "escolhida" pelo cliente, o Banco do Brasil aparece como líder, seguido pelo Citi (veja quadro). Esse segmento, que inclui comércio externo, ingressos e transferências, girou US$ 621,287 bilhões de janeiro a junho de 2012. O BB ficou com 15% das operações; o Citi com 14%; Bradesco e HSBC responderam, cada um, por 10%; o Santander levou 9%; J.P. Morgan 8%; Itaú BBA 7%; Itaú Unibanco 4%; BNP Paribas 4%, e, Deutsche Bank 2%.

No mercado primário, o J.P. Morgan saiu da oitava para a sexta colocação, com um salto de 158% no giro, para US$ 46,618 bilhões. Nas exportações, o crescimento da instituição foi de 234% e nas importações de 161%. No negócio de transferências para o exterior o volume avançou 200%, e nas transferências para o Brasil a alta foi de 110%. No interbancário, o banco saiu de 17º (US$ 29,368 bilhões) para terceiro lugar agora em 2012, movimentando US$ 91,826 bilhões no semestre.

De acordo com corretores, foi visível a mudança de estratégia da instituição, que passou a disputar espaço com os líderes de mercado com taxas mais competitivas. Mas segundo um diretor do J.P. Morgan, a questão não envolve apenas preço e competitividade. Desde 2009, houve uma redefinição de rota no Brasil e o foco, antes restrito à divisão de banco de investimentos, passou a incluir outras atividades. Sinal disso, diz o executivo, é que hoje o banco só não atua em cartão de crédito e varejo no Brasil. Todas as outras linhas de negócio são oferecidas no país.

Com base nesse projeto, o banco ampliou o radar para captar, não atendendo apenas empresas grandes ou muito grandes. "Ao ampliar a cobertura de clientes temos muito mais fluxo, não só nas operações de câmbio, mas também em outras operações como empréstimos externos e crédito", diz.

Segundo o diretor, esse avanço na base de clientes e nos tipos de operações ofertadas explicam o crescimento no banco no mercado interbancário. "Quando tem operações de cliente, seja de fluxo comercial, financeiro, pagamento de dividendos ou ADRs, toda essa movimentação passa pelo interbancário. Uma coisa é espelho da outra", finaliza.

Abrindo ainda mais os dados do ranking, o BB aparece como líder no segmento de exportação e importação. O banco respondeu por 27,4% do giro de exportação do semestre, com US$ 35,749 bilhões, e por 21% das importações, com US$ 21,484 bilhões.

"O BB é um banco de comércio exterior. Independentemente do tamanho do mercado, luta para manter a maior fatia do bolo de operações externas", diz o diretor da área de negócios internacionais, Admilson Monteiro Garcia.

Segundo Garcia, o BB assegura essa posição por figurar como um dos maiores grupos financeiros da América Latina, com grande e diversificada carteira de clientes e acesso a crédito externo em volumes e condições favoráveis. "Temos liquidez para amparar nossos clientes, o que acaba com o fechamento de câmbio dentro do próprio BB", diz.

A queda no ranking geral, de primeiro lugar para quarto, decorreu, entretanto, do menor volume de negócios do BB no interbancário. A instituição girou US$ 40,263 bilhões agora em 2012 (10º lugar), ante US$ 152,766 bilhões em igual período de 2011 (2º lugar).

Segundo o gerente executivo da diretoria de finanças do BB, Maurício Nogueira, o foco do banco não é fazer operações no interbancário. "Como temos um fluxo grande e muitos clientes, temos um hedge natural para a carteira de câmbio."

As operações no interbancário ocorrem para "zerar" possíveis descasamentos na carteira da instituição decorrentes das operações de comércio externo, remessas e ingressos. Mas também servem para ajustar posições de tesouraria e outras exposições cambiais. De acordo com Nogueira, a movimentação interbancária do BB em 2011 é tinha sido atípica.

A mudança da regra de formação de Ptax, taxa referencial do mercado, explica parte disso. Desde julho de 2011, a taxa deixou de ser uma média ponderada pelo volume e divulgada no fim do dia, para ser uma média aritmética de quatro consultas feitas das 10 horas às 13 horas pelo BC.

Ainda no comércio exterior, depois do BB, o Bradesco aparece com 19,3% das exportações, e 18% das importações. Já no segmento de ingressos e remessas externas o Citibank é destaque isolado, abocanhando 18% do mercado em cada uma das pontas. Segundo corretores, essa posição decorre da própria carteira de clientes internacionais do banco, que acabam utilizando a instituição para remessas de lucros e ingressos de investimento.

Na ponta de ingressos, o BB está em segundo lugar, com 11% de um mercado que girou US$ 190,732 bilhões no semestre. Ano passado, o BB estava em quarto lugar. O HSBC vem em terceiro, com 10%, e, o J.P. Morgan está em quarto, com 9%.

Na ponta das remessas, o Santander aparece em segundo, com fatia de 11% dos US$ 195,803 bilhões movimentos. No primeiro semestre de 2011, a instituição estava em quarto lugar. O HSBC fica na terceira colocação; o BB na quarta, e, o J.P. Morgan na quinta. Cada um deles respondendo por cerca de 9% das movimentações.

No interbancário, o Itaú Unibanco lidera, com US$ 137,387 bilhões movimentados de um total de US$ 1,065 trilhão, ou 13% do volume. O segundo lugar está com o Santander, com 12% do mercado. O banco espanhol estava em terceiro lugar no ano passado. Esse crescimento no interbancário explica a liderança no ranking geral que o Santander apresenta agora.