Título: Blairo Maggi é reeleito no Mato Grosso
Autor: Zanatta, Mauro
Fonte: Valor Econômico, 02/10/2006, Política, p. A18

Reeleito com uma das maiores votações da história de Mato Grosso, o atual governador Blairo Maggi (PPS) anunciou ontem sua preferência pelo presidente Lula e declarou guerra à oposição local, que o atacou fortemente durante uma campanha marcada por acusações mútuas de envolvimento com a máfia das sanguessugas. "Torcia para a eleição acabar agora, no primeiro turno, porque o país precisa voltar a funcionar o mais rápido possível", afirmou ontem ao Valor em meio à apuração dos votos. O candidato tucano Geraldo Alckmin venceu no Estado o presidente Lula por 55% a 39%.

Fortalecido pelos 65,4% dos votos válidos obtidos no primeiro turno, Maggi busca aumentar sua influência nas decisões nacionais com a proposta de lançamento de uma frente de governadores do Centro-Oeste e do Norte do país. "Temos de estabelecer um amplo entendimento com outros governadores para ter mais força em Brasília" disse. "Nosso colégio eleitoral, se contada de forma isolada, é pequeno. Mas, juntos, poderemos avançar em questões importantes, diria fundamentais, para nossas regiões como a infra-estrutura, por exemplo".

O governador também elegeu o senador e pelo menos seis dos oito deputados da bancada federal - quatro deles investigados por envolvimento com a máfia das sanguessugas. O ex-governador Jaime Campos (PFL) teve 60,8% dos votos válidos.

Até então neutro na disputa federal, o governador reeleito começava a posicionar-se para a realização de um eventual segundo turno para a disputa da Presidência da República antes menos da conclusão da apuração. Maggi dá sinais de boa vontade com o PT, mas mantém as portas abertas com o PSDB. Ambos são seus adversários ferrenhos no plano local. "Se o (Geraldo) Alckmin ganhar também não muda muita coisa porque os cargos federais já tinham ficado mesmo todos na mão do PT por aqui", disse.

Se no âmbito federal, Maggi faz malabarismos para não melindrar Lula e Alckmin - e, mais que isso, busca atraí-los com os 1,94 milhão de votos do estado - no plano local promete "guerra total" aos adversários, os senadores Antero Paes de Barros (PSDB) e Serys Slhessarenko (PT), ambos envolvidos diretamente no escândalo do pagamento de propina a deputados sanguessugas. "Coisa pessoal comigo não tem conversa. Vou pedir investigações do Ministério Público sobre todas as denúncias que eles fizeram contra mim e, depois, processar todos eles", afirmou.

Num discurso inflamado durante seu último comício, na cidade de Acorizal, na sexta-feira passada, Maggi mostrou-se furioso com a oposição: "Vão ter de agüentar porrada no lombo porque eu vou botar no rabo deles", disse. Ao longo da campanha, Antero e Serys o acusaram de favorecimento a parentes, uso de máquinas do Estado em suas fazendas e de asfaltar ligações entre as várias propriedades rurais de sua família. "Ele é truculento", reagiu.

Para governar pelos próximos quatro anos, Maggi aposta na proximidade com as bases nos municípios. Essa foi uma de suas principais estratégias para ter apoio maciço na Assembléia Legislativa durante o primeiro mandato. "Os prefeitos viram no Blairo a opção municipalista. Pressionaram seus deputados estaduais e vieram todos conosco", disse o coordenador-geral da campanha do governador, Luiz Antonio Pagot, também eleito suplente de senador. "Dos 141 municípios do Estado, tivemos apoio de 125 e outros dez ficaram neutros por questões políticas locais e somente seis apoiaram a oposição".

Maggi quer garantir apoio da maioria dos deputados estaduais, pelo menos até 2008, quando as eleições municipais podem mudar a correlação de forças. "O Blairo é pé-frio. Todo candidato que ele apóia acaba derrotado. Ele tem voto, mas não transfere", provocou o prefeito de Cuiabá, o tucano Wilson Santos, que venceu um candidato apoiado por Maggi.

O Legislativo local deve continuar sob a forte influência de José Riva (PP) e Humberto Bosaipo (PFL), investigados como beneficiários de favores do empresário João Arcanjo Ribeiro, preso como chefe de uma violenta máfia que dava as cartas no Estado do Mato Grosso até 2003. Mas os cargos de primeiro escalão do governo devem ser usados por Maggi para atrair e manter o apoio dos deputados estaduais. "Vamos fazer mudanças para acomodar a base. Mas só em 2007", avisou Maggi.