Título: Acusado de fraude em licitações, Cassol vence em Rondônia
Autor: Barros, Bettina
Fonte: Valor Econômico, 02/10/2006, Política, p. A19

Por volta das 23hs (horário de Brasília) de ontem, com quase 100% das urnas em Rondônia apuradas, Ivo Narciso Cassol (PPS), de 47 anos, tornou-se o primeiro governador reeleito da curta história do Estado, com mais de 54% dos votos válidos. O PPS também elegeu Expedito Júnior para o Senado, com quase 40% dos votos.

Para a formação da Assembléia Legislativa, o quadro era mais nebuloso. Segundo dados extra-oficiais, dos 23 deputados da gestão anterior envolvidos no escândalo que jogou Rondônia no epicentro de um mapa político marcado por denúncias de corrupção, cinco se reelegeram. O deputado estadual Neri Firigolo (PT), o único da Assembléia que não está envolvido no escândalo provocado pela Operação Dominó, da Polícia Federal, também foi reeleito.

José Carlos de Oliveira, o Carlão, presidente da Assembléia Legislativa, foi preso na Operação Dominó, e ontem, segundo informou o Tribunal Regional Eleitoral, recebeu 10.572 votos e garantiu, assim, a sua cadeira como deputado.

Em 7 de agosto ocorreu uma prisão em massa que levou gente dos três poderes, do presidente do Tribunal de Justiça ao vice-presidente do Tribunal de Contas do Estado, passando pelo procurador geral de Justiça e pelo então chefe da Casa Civil do governador. Em 2002 ele foi o quarto deputado mais votado, com 10.222 votos.

O próprio governador Ivo Cassol, dono da maior declaração de patrimônio pessoal da região Norte - R$ 23 milhões obtidos com exploração de madeira e usinas de eletricidade de pequeno porte -, responde a dois processos no Superior Tribunal de Justiça. Em um deles é acusado de fraude em licitações públicas na época em que era prefeito de Rolim de Moura. Em outro é investigado por extração ilegal de diamantes e contrabando. Caso seja condenado, pode ter o mandato cassado. Defende-se dizendo que foi ele quem denunciou operações irregulares com diamantes. Durante quatro dias foi procurado pela reportagem do Valor e não quis falar.

Uma das origens do imbroglio em Rondônia foi o sistemático desrespeito à Lei de Responsabilidade Fiscal. O Judiciário, o Ministério Público, a Assembléia Legislativa excederam, sem pudores, seus limites de gastos nos últimos anos. O resultado foi um esquema que teria desviado R$ 70 milhões da Assembléia Legislativa de Rondônia desde 2004. Cassol assumirá o segundo mandato com as instituições encarregadas de controlar sua gestão bombardeadas por denúncias de corrupção.

O maior adversário do governador, o bispo de Ji-Paraná, dom Antonio Possamai, explica por que eleitores votam em políticos de má fama junto à polícia. "Aqui não se investe em saúde. Os deputados abrem fundações de saúde, atendem os pobres e criam um vínculo. Depois das eleições, eles somem e as fundações desaparecem".

Eleição em Rondônia parece gincana - pelo menos para quem segue o resultado das pesquisas de intenção de voto. Os jornais locais são controlados por políticos, que puxam os resultados para o próprio lado. Nos últimos dias, as pesquisas dos institutos Phoenix, Alvorada, Publica e Ibope apontavam para horizontes políticos distintos. Para o Ibope e o Alvorada, Cassol seria eleito no primeiro turno. Phoenix indicava segundo turno com Fátima Cleide (PT) ou Carlos Camurça (PSB). Nas avaliações para senador, Melki Donadon, do PMDB, era o mais bem votado, na visão do Phoenix. Para o Publica, a cadeira no Senado iria ao empresário Acir Gurgacz (PDT). Para o Alvorada, Expedito (PPS) venceria.

A prática da compra de votos é enraizada. No começo da tarde de ontem, o deputado Mauro de Carvalho (PP) foi preso em flagrante no município de Ministro Andreazza, zona eleitoral de Cacoal, por tentativa de compra de voto. Estaria com um pacote farto em notas de R$ 50. Mais de 50 pessoas tinham sido autuadas pela Polícia Federal em Porto Velho, fazendo boca de urna ou distribuindo alimentos. Nos banheiros femininos das escolas havia denúncias de gente dando camisetas e R$ 20,00 em troca de votos.