Título: Braga é reeleito em 1º turno no Amazonas
Autor: Barros, Bettina
Fonte: Valor Econômico, 02/10/2006, Política, p. A19

O candidato à reeleição Eduardo Braga, do PMDB, venceu ontem a disputa no Amazonas. Com 99,72% dos votos apurados, até às 22 horas de ontem (horário de Brasília), o atual governador mantinha a liderança com 50,57%, confirmando o que já previam as pesquisas. Em segundo lugar ficou Amazonino Mendes, um ícone político que governou o Amazonas por três vezes. Ele obteve 40,05% dos votos.

A vitória de Braga mantém a tradição do Amazonas de decidir as eleições no primeiro turno, como ocorreu em 1994, 1998 e 2002. E representa também a segunda derrota consecutiva de Amazonino, que disputou a Prefeitura de Manaus em 2004 e perdeu para Serafim Corrêa (PSB). Outra derrota expressiva é a de Gilberto Mestrinho, que disputava a única vaga ao Senado. Alfredo Nascimento (PL) elegeu-se com 47,43% dos votos.

A saída de cena de Amazonino e Mestrinho é um marco na história amazonense. Desde a redemocratização no Brasil, em 1982, somente esses dois políticos alteraram-se na cadeira de governador do Amazonas. Mas não significa uma mudança de ventos. O atual governador é visto como a continuidade das práticas políticas arraigadas no Estado, que privilegiaram o populismo e o clientelismo como forma de angariar eleitores e manter-se no poder.

"Quero agradecer ao grande companheiro Gilberto Mestrinho, um estadista que o Estado tem e muito me ajudou nesta caminhada", disse Braga, em discurso logo após a apuração dos votos em seu comitê eleitoral, que estava em festa na zona oeste da capital. "Em 25 anos de vida pública, esta talvez tenha sido a eleição mais disputada não apenas contra candidatos, mas também contra outras coisas."

Paraense de Belém, Braga foi vereador, deputado estadual, federal e prefeito de Manaus até chegar a governador, em 2002. Engenheiro elétrico, casado e pai de três filhos, ele é amigo pessoal e foi introduzido à política por Amazonino.

As ofensas pessoais trocadas pelos dois são vistas pela maioria dos amazonenses como fachada. Na sábado, a coligação de Braga conseguiu uma liminar para suspender por 24 horas as transmissões da TV A Crítica, filiada ao SBT. O governador sentiu-se ofendido por programas veiculados na emissora. O TRE antecipou ontem em duas horas a retransmissão.

"Vivem entre tapas e beijos, mas são farinha do mesmo saco", diz o motorista de táxi José Raimundo, que não quis revelar o seu sobrenome. A piada corrente resume o apadrinhamento político amazonense: Mestrinho é o avô, Amazonino o pai e Braga, o neto.

Seu principal programa na primeira gestão foi o Prosamim, que tinha como objetivo retirar famílias das palafitas às margens dos igarapés para realização de obras de saneamento básico e urbanização. Mas seu maior trunfo na campanha foi colar sua imagem à do presidente Lula, através de quem atraiu votos com discursos sobre a prorrogação da vigência da Zona Franca e do gasoduto de Coari a Manaus.

Contra seu governo, porém, pesam acusações que, por mais que ele evite, associam a sua pessoa a métodos utilizados por Amazonino. Uma delas refere-se à Operação Albatroz, conduzida pela Polícia Federal (PF) entre 2002 e 2004, que investigou o desvio de R$ 500 milhões do Estado em licitações públicas. Nove pessoas indiciadas eram ligadas a Braga.

Nesta semana, outro indício de um dos crimes eleitorais mais comuns no Amazonas: compra de votos. A PF prendeu na noite de quinta-feira, em Tefé, a 525 km de Manaus, cinco pessoas ligadas ao governador que carregavam R$ 220 mil em uma mala. Ariel Moutinho, que concorre à vaga de deputado federal pelo PMDB e é muito próximo a Braga, foi preso em flagrante. "Instauramos inquérito e ele poderá ser cassado", afirmou ao Valor o superintendente da PF em Manaus, Késsio Pinto.

Ontem, pouco antes do fim das votações, a polícia prendeu no aeroporto de Manaus Lucy Pereira, tesoureira do município de Amaturá, no Alto Solimões, com R$ 419 mil. Ela alegou que o dinheiro era para pagar funcionários da prefeitura. Ainda não se sabe se ela tem ligações com políticos.

Segundo as polícias civil e militar, assim como o Tribunal Regional Eleitoral (TRE), as eleições foram tranqüilas. Apenas 14 pessoas foram presas fazendo boca-de-urna.