Título: Preço ao produtor sobe também nos setores que receberam benefício fiscal
Autor: Giffoni , Carlos
Fonte: Valor Econômico, 02/08/2012, Brasil, p. A4

Apesar dos benefícios concedidos neste ano, houve aumento no preço ao produtor de todos os setores contemplados com redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) ou com a substituição da contribuição previdenciária de 20% sobre a folha de pagamentos em troca de uma alíquota sobre o faturamento bruto. Na fabricação de calçados e couro, o Índice de Preços ao Produtor (IPP) acumulado no primeiro semestre chegou a 5,30%.

Thiago Carlos, economista da Link Investimentos, explica que os preços ao produtor são calculados antes do desconto de impostos, o que retira do IPP o impacto referente aos benefícios concedidos a alguns setores industriais. "A redução dos impostos não atinge o preço ao produtor. O que existe é uma inflação natural da economia para alguns setores onde há mais competição com importados ou benefício fiscal", explica. O economista ainda lembra que existe uma pressão de custos, que varia de acordo com os setores, resultado de aumento de salários, gastos com energia elétrica e concorrência no mercado interno, o que também determina esse aumento de preços.

Desde janeiro, confecções e couro e calçados passaram a contribuir com o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) com alíquota de 1,5% sobre o faturamento bruto. No início de abril, a alíquota passou a ser de 1% sobre o faturamento desses setores. Linha branca e móveis contam com IPI reduzido desde janeiro e março deste ano, respectivamente.

No primeiro semestre, o IPP na fabricação de móveis registrou alta de 4,7% e, na confecção de artigos do vestuário e acessórios, de 2,31%. O aumento de preços foi mais moderado na fabricação de veículos, reboques e carrocerias, registrando 0,57% no acumulado até junho. Já na linha branca, o cálculo não é possível, pois o IBGE, que divulga o IPP, não separa os produtos desse subsetor do grupo de máquinas, aparelhos e materiais elétricos. O IPP da indústria de transformação em geral acumula alta de 4,53% no semestre.

O sócio-diretor da RC Consultores, Fabio Silveira, lembra que houve uma desvalorização importante do real neste ano. Desde janeiro, a moeda recuou 9,1% perante o dólar, o que se reflete nos preços aferidos no mercado internacional para o produtor brasileiro. "Parte importante desse aumento de preços está associada à desvalorização cambial. Quando a taxa de câmbio aumenta, cria-se uma pressão sobre os bens comercializáveis - que têm preço em dólar", explica.

O economista acredita que esse impacto atinge diferentes setores industriais de maneira semelhante, mas é a competitividade de cada setor que determina quanto disso será repassado aos preços do varejo. "Essa majoração de custos depende de vários fatores, como o mercado internacional, a taxa de câmbio e o ambiente doméstico. Se a massa salarial estiver aumentando, por exemplo, o produtor pode repassá-lo."

Em relação à produção dos setores beneficiados, não houve movimento uniforme no primeiro semestre. Veículos, vestuário e calçados e couro registraram queda de 18%, 13,1% e 5%, respectivamente, na comparação com o primeiro semestre de 2011. O movimento é o inverso na linha branca (8,8%) e no setor mobiliário (2,2%), onde a produção cresceu na mesma comparação.