Título: Fim de encargos na energia pode ajudar inflação
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 02/07/2012, Brasil, p. A4

O fim da cobrança de encargos sobre a energia elétrica, que, conforme vem sendo sinalizado pelo governo, pode diminuir os preços em cerca de 10% e deve ser anunciado ainda neste mês, tiraria de 0,24 a 0,34 ponto percentual do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em um período de 12 meses, segundo cálculos de economistas, caso chegasse integralmente ao consumidor. O cenário principal dos analistas, no entanto, não conta com esse alívio à inflação. A desoneração, de acordo com eles, deve ser direcionada à indústria, setor no qual as tarifas de energia pesam mais, apesar das declarações do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, de que o consumidor residencial também será beneficiado.

Como o setor industrial atravessa um momento difícil, dizem os analistas, a "folga" gerada pelos preços menores seria usada para recompor margens apertadas, e não repassada para frente na forma de produtos finais mais baratos. Estudo feito pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) estima que a energia elétrica representa, em média, 10% do custo total da indústria, responsável por mais de 40% do consumo nacional. No IPCA, o item tem peso de 3,4 pontos percentuais na cesta pesquisada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Os produtos industrializados já vêm ajudando a inflação porque a competição acirrada com os importados reprime aumentos de preços. Nos 12 meses encerrados na primeira quinzena de julho, os bens duráveis, grupo composto somente por produtos manufaturados, acumulam queda de 4,94%, segundo cálculos da LCA Consultores.

Para Francisco Pessoa, economista da consultoria, o corte de impostos sobre a energia representa uma política industrial horizontal positiva, destinada a atacar parte do chamado "custo Brasil", mas muito provavelmente não repercutirá nos preços ao consumidor. "Esse custo fiscal serve para dar mais competitividade à indústria. Não faria muito sentido a desoneração ser repassada", diz.

Pessoa lembra que boa parte das 11 capitais onde são feitas as coletas de preços para o IPCA estão sendo contempladas pelo terceiro ciclo de revisão tarifária das concessionárias de energia elétrica, que incorpora ganhos de produtividade nas tarifas e, na maioria dos casos, diminui as contas de luz, impacto concentrado neste ano. Assim, para a LCA, está fora de questão um impacto de baixa no IPCA do próximo ano por meio do item energia. Caso a desoneração seja repassada ao consumidor, no entanto, ela tiraria 0,34 ponto percentual da projeção de 5,5% da consultoria para a alta do indicador no ano que vem.

Thiago Carlos, economista da Link Investimentos, também não está inclinado a cortar sua estimativa de alta de 6% para o IPCA no próximo ano em função da expectativa de preços menores de energia. "A impressão é que a desoneração será algo voltado somente para a indústria. Haveria uma briga entre um repasse direto ao consumidor e recomposição de margens. Algo acabaria sendo repassado, mas seria um impacto muito indireto" no IPCA, explicou.

Mais otimista, o economista-chefe da Planner-Prosper Corretora, Eduardo Velho, avalia que, mesmo concentrada no segmento industrial, a desoneração fiscal seria favorável à inflação oficial do próximo ano, para a qual espera aumento de 5,24%. A mediana de expectativas coletadas pelo Boletim Focus, do Banco Central, aponta para taxa de 5,5%. Velho pondera, contudo, que é difícil estimar o grau de transmissão de custos da indústria para o varejo. "Isso vai depender de cada indústria. O setor com mais encargos financeiros deve manter mais esse ganho do que repassá-lo ao consumidor. Acho muito difícil ter uma redução generalizada e linear", afirma.

Considerando que uma queda entre 7% e 10% nos preços de energia seja totalmente repassada ao consumidor residencial, o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, calcula que o efeito de baixa no IPCA seria de 0,24 a 0,34 ponto percentual. A redução para a indústria, no entanto, diz ele, seria diluída como impacto na ponta final e, portanto, é difícil de ser estimada. Assim, a previsão da MB Associados para a alta do IPCA em 2013 está mantida em 6%. (AM)