Título: Efeito do IPI foi positivo, mas produção não cresceu com desoneração da folha
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 02/08/2012, Brasil, p. A4

Os resultados da Pesquisa Industrial Mensal - Produção Física (PIM-PF) de junho mostram que o desempenho dos setores beneficiados pela redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) foi muito melhor do que o dos demais segmentos, inclusive daqueles beneficiados pela desoneração da folha de pagamentos. Entre os segmentos beneficiados pelo IPI menor, mobiliário e linha branca cresceram mais do que automóveis. Nesse setor, a recuperação só ocorreu em junho. Já calçados e vestuário - atingidos pela medida que eliminou a contribuição patronal ao INSS e substituiu por um percentual do faturamento - encerraram o semestre com produção inferior a de igual período do ano passado.

Para o gerente da coordenação de indústria do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), André Luiz Macedo, os efeitos positivos da redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para automóveis - medida anunciada em 21 de maio - não ficaram "evidentes" na Pesquisa Industrial Mensal-Produção Física (PIM-PF) de junho.

Na avaliação do especialista, houve um "descasamento" entre os dados de produção e de licenciamento de veículos. De acordo com a PIM-PF, a produção de automóveis caiu 0,6% em junho em relação a igual mês de 2011. Em maio, a queda foi de 5,3%, no confronto com igual mês de 2011. Já os dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) apontam que o licenciamento de veículos nacionais leves subiu 23,6% em junho ante igual mês do ano passado.

Por trimestres, a produção de automóveis caiu tanto no primeiro como no segundo trimestres, em relação ao mesmo período do ano passado. Por outro lado, a produção de móveis cresceu 13,9% no segundo trimestre, um pouco mais do que nos primeiros três meses do ano.

O mesmo efeito positivo foi observado na produção de linha branca, para a qual a redução do IPI ocorreu no início de dezembro. Esse segmento cresceu 8,5% no segundo trimestre de 2012 ante igual período de 2011, levemente abaixo do registrado no trimestre anterior, quando a produção da linha branca havia crescido 9% frente a igual período de 2011. Já o segmento de linha marrom - televisores e aparelhos de som e vídeo - sofreu com a migração do consumidor para a linha branca. Depois de crescer no primeiro trimestre, a produção encolheu no segundo.

"A diferença do efeito da redução do IPI ocorre porque são produtos com valores diferentes. Além disso, o setor de automóveis estava mais estocado do que o de mobiliário e linha branca. Sobre o setor de automóveis também pesam mais questões como inadimplência e endividamento das famílias", diz Macedo, do IBGE.

Se a redução do IPI ajudou os setores beneficiados, o mesmo impulso não apareceu nos segmentos beneficiados pela desoneração da folha de pagamentos. A produção em 2012 foi menor tanto para calçados como para vestuário. Dentro do mesmo grande segmento de bens semiduráveis, a fabricação de têxteis - indústria cuja desoneração da folha só começa agora - cresceu nos dois trimestres de 2012 em relação ao mesmo período de 2011.

Se em junho, os incentivos concedidos pelo governo tiveram peso predominante sobre o resultado menos sofrível da produção, economistas ouvidos pelo Valor esperam que uma conjuntura mais aquecida também dê impulso ao setor a partir do segundo semestre, com famílias menos endividadas, inadimplência e juros menores e destravamento do crédito. Também estão sendo aguardadas mais medidas para reativar o setor, embora o cenário externo conturbado continue sendo considerado fator negativo para a evolução da indústria. (DM)