Título: Protestos atraem 3,5 mi
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Fonte: Correio Braziliense, 20/10/2010, Economia, p. 15

INTERNACIONAL Na França, última manifestação antes de a proposta de reforma previdenciária ser votada no Senado junta multidão Paris ¿ Cerca de três milhões e meio de pessoas se manifestaram ontem na França, no sexto dia nacional de greve contra a reforma da aposentadoria proposta pelo presidente conservador Nicolas Sarkozy, segundo estimativa da central sindical francesa CGT. Pelos cálculos do Ministério do Interior, no entanto, os protestos não atraíram mais do que 1,1 milhão de pessoas. Só em Paris, cerca de 380 mil franceses participaram dos atos, que terminaram com um estudante ferido em Paris.

Pela última vez antes da votação do texto no Senado, esperado para hoje, os franceses foram às ruas em todo o país para demonstrar descontentamento com a proposta. Considerado impopular, o projeto prevê o aumento da idade mínima de aposentadoria de 60 para 62 anos.

Ontem, em Deauville, antes de o clima esquentar, Sarkozy anunciou que tomaria medidas contra o bloqueio de refinarias e faria o que fosse necessário para garantir a ordem. "Compreendo a preocupação. Em uma democracia, cada um pode expressar-se, mas deve fazê-lo sem violência nem excessos", afirmou Sarkozy à imprensa, em Deauville, norte da França, ao fim de uma cúpula com a Alemanha e a Rússia.

Adesão Mas a greve do funcionalismo público prejudicou os transportes no país. Aeroviários, ferroviários, professores, carteiros e os motoristas dos carros blindados que abastecem caixas eletrônicos se juntaram aos petroleiros e aos secundaristas num dia dedicado a manifestações.

A paralisação nas refinarias já entra em seu oitavo dia e causa a escassez de gasolina e diesel nos postos. Em Lyon, em Paris e em Nanterre, subúrbio da capital, confrontos nas ruas deixaram as autoridades em alerta.

A maioria dos analistas acha que os protestos minguarão após a aprovação da reforma. Mas os influentes sindicatos franceses, que já derrotaram reformas previdenciárias e trabalhistas em 1995 e 2006, prometem não desistir.

Antes mesmo de as manifestações se iniciarem, o ambiente já estava tenso. Em entrevista a uma rádio francesa, o militante trotskista Olivier Besancenot, líder do Novo Partido Anticapitalista, desafiava o governo dizendo: "A rua tem poder, e ela pode ser mais poderosa do que o governo".

Já a ministra da Justiça, Michele Alliot-Marie, prometia repressão a eventuais casos de vandalismo. "O direito de se manifestar não significa o direito de quebrar coisas", afirmava.

Tudo para evitar o que já havia ocorrido na véspera, quando carros foram queimados e barricadas foram montadas nos arredores de Paris, e um incêndio consumiu uma escola secundária em Le Mans (oeste). Ontem, cerca de 300 secundaristas ocuparam as praças da Bastilha e de la Republique, na capital. O temor que as autoridades não conseguiam esconder era de uma nova onda de radicalização dos jovens.

Confrontos No início da manhã, distúrbios diante de um colégio em Nanterre, subúrbio da zona noroeste de Paris, envolveram 200 jovens encapuzados ¿ não estudantes da escola ¿, que lançaram objetos e bombas de fumaça contra os policiais e incendiaram um veículo.

Uma jovem de 15 anos ficou ferida após a explosão de uma motocicleta perto de um contêiner de lixo diante de seu colégio na zona sul da capital. Na Praça da República, no centro de Paris, a polícia dispersou 300 estudantes secundaristas.

Dez das 83 universidades do país estavam bloqueadas, segundo a União Nacional de Estudantes de França (Unef). A atividade em 379 colégios secundaristas estava prejudicada, segundo o Ministério da Educação. A Federação Independente e Democrática de Liceus (FIDL), segunda maior organização do setor, calculou em 1.200 o número de colégios envolvidos nos protestos.

O tráfego ferroviário também foi prejudicado, com o funcionamento de seis trens de grande velocidade em cada 10. Em Paris, o metrô estava em ritmo praticamente normal, mas duas linhas de trens suburbanos registraram problemas. No aeroporto parisiense de Orly, 50% dos voos foram cancelados. No Charles de Gaulle, o índice era de 30%.

Os caminhoneiros, que se uniram aos protestos na noite de domingo, fazem "operações tartaruga" em alguns pontos do país, onde grupos de manifestantes bloqueavam a entrada de fábricas, áreas industriais, depósitos de combustível ou aeroportos, como em Bordeaux. A greve também afeta os serviços de correios, telecomunicações, educação, o setor audiovisual público e outros setores privados, como a coleta de lixo em algumas cidades. A mobilização tem o apoio de 71% dos franceses, segundo as pesquisas.

Irlanda: mais 2,5 bi de euros

A endividada Irlanda vai precisar economizar mais 2,5 bilhões de euros (US$ 3,5 bilhões) até 2014 para atingir suas metas de redução de deficit fiscal. Os partidos de oposição têm se encontrado com autoridades do Ministério de Finanças como parte dos esforços do primeiro-ministro, Brian Cowen, para chegar a um consenso político sobre como reduzir o pior rombo nas contas públicas entre os países da União Europeia (UE). A meta inicial do governo era de economizar 7,5 bilhões de euros, mas o Fundo Monetário Internacional (FMI) estimou o ajuste em mais de 10 bilhões de euros.