Título: Pessimista vê risco em commodities
Autor: Lamucci, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 02/10/2006, Brasil, p. A23

A visão benigna do Fundo Monetário Internacional (FMI) sobre os rumos da economia global tem como um dos principais opositores o pessimista de plantão Stephen Roach, economista-chefe do Morgan Stanley. Ele traça um cenário bem menos róseo que o do FMI para o mundo daqui para a frente. Se estiver certo, países emergentes como o Brasil não terão vida fácil.

Daniel Aratangy/Valor Roger Scher, da FitchRatings, acredita que a desaceleração global será ordenada e não haverá recessão Roach acredita que o panorama para os preços das commodities não será dos melhores. Em artigo recente, ele aponta os três fatores que podem puxar as cotações dos produtos que o Brasil mais exporta para baixo. O primeiro é alguma desaceleração da economia da China, que, segundo Roach, já está em curso, devido à política monetária mais apertada e a medidas administrativas destinadas a segurar a atividade econômica.

A produção industrial cresceu "apenas" 15,7% em agosto em relação ao mesmo mês do ano passado, abaixo dos 18% de junho e julho. Se o ritmo cair para 12% a 13%, Roach considera "que é quase uma certeza matemática" que essa desaceleração produziria uma grande virada na demanda global por commodities.

O segundo fator é o desaquecimento do mercado imobiliário americano - uma das grandes fontes de risco para a economia americana na visão de muitos analistas, mesmo para os que não acreditam numa queda abrupta desse setor, como o diretor-executivo de rating soberano para a América Latina da Fitch Ratings, Roger Scher. Roach lembra que a construção de residências é uma grande consumidora de commodities, como o cobre.

O terceiro ponto, por fim, é que o mercado de commodities passou a contar com o envolvimento cada vez maior de investidores institucionais e também de varejo. Para Roach, num quadro em que a China desacelera e a bolha imobiliária explode, o envolvimento do investidor torna a situação ainda mais perigosa, podendo contribuir para uma queda mais forte dos preços das commodities.

Em outro artigo, o pessimista de Wall Street analisa o impacto da desaceleração global sobre os chamados BRICs - Brasil, Rússia, Índia e China. Segundo Roach, o Brasil não será tão prejudicado quanto a Rússia - o maior exportador de commodities dos quatro, cujas exportações equivalem a 31,9% do PIB - e não irá tão bem quanto a Índia - cujo crescimento depende mais do mercado interno.

Para ele, o Brasil ainda tem exportações modestas em comparação com o PIB - 14,9% -, mas que ganharam bastante importância nos últimos dez anos. Em 1996, eram apenas 6,2%. Outro problema do Brasil é que a demanda doméstica não tem mostrado força significativa nos últimos anos. De 2001 a 2005, avançou a uma média de apenas 2,2% por ano, enquanto os outros três BRICs cresceram 8,9%. A situação da China, para ele, também tende a ficar no meio do caminho entre Índia e Rússia.

Ao menos por enquanto, a economia global dá sinais de que Roach está errado. Há indícios de que o desaquecimento no mercado imobiliário americano é moderado, ainda que o risco aí seja grande. Além disso, Scher lembra que o petróleo caiu bastante nas últimas semanas. Um petróleo mais barato diminui as pressões inflacionárias, tendência que, se mantida, deve levar o o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) a manter os juros estáveis. (SL)