Título: Após cinco anos, Sun ensaia volta à rentabilidade
Autor: Hamm, Steve
Fonte: Valor Econômico, 02/10/2006, Empresas, p. B2

Os especialistas no setor de informática tinham suas dúvidas sobre Jonathan I. Schwartz, quando ele foi promovido a executivo-chefe da Sun Microsystems em abril, substituindo Scott McNealy, que ocupara o posto durante longo tempo. Primeiro, havia o rabo-de-cavalo, que faz Schwartz parecer bem mais jovem do que seus 40 anos. Além disso, ele exibe um estilo impetuoso que parecia fora de sincronia com as realidades sombrias da Sun. Será que esse executivo-chefe da Web 2.0 tinha bagagem suficiente para comandar uma empresa de tecnologia em dificuldades?

Não levou muito tempo para Schwartz mostrar serviço. A Sun, que caíra bastante das alturas antes conquistadas - chegara a ser uma das maiores companhias na era "pontocom" - saiu de uma depressão que durou cinco anos, ao produzir dois vigorosos trimestres de crescimento nas receitas e um aumento de participação no mercado. Suas ações valorizaram 38% desde o fim de julho, e Schwartz parecia radiante quando visitou Wall Street e sua clientela nova-iorquina no início de setembro. "Em nossa opinião, a Sun está a caminho de uma recuperação", diz o analista Ben Reitzes, do UBS, que recentemente melhorou a sua pontuação atribuída às ações da Sun.

Schwartz está-se empenhando a fundo para convencer o mercado de que a Sun recuperou-se e modificou sua competência principal. Sua mensagem: o que a Sun faz não tem mais a ver apenas com servidores rápidos. Agora, a companhia prioriza tecnologias que fazem os clientes economizarem dinheiro em eletricidade e oferecem mais poder de processamento por dólar. Schwartz quer capitalizar o crescimento de mercados puxados pelo consumidor - bancos varejistas, empresas de telecomunicações e grandes empresas de internet. "A Sun está apostando em que a internet puxará o crescimento de seus negócios", diz ele. "Se você apostar nos clientes certos, como estamos fazendo, será possível crescer muito mais rápido do que o mercado." Um aspecto positivo, nesse sentido, é que a Sun renovou todas as suas principais linhas de produtos no ano passado.

Os clientes estão gostando dos novos computadores porque são mais baratos e lhes permitem agregar mais capacidade de processamento em data centers já apinhados de máquinas. No passado, a Joyent, que vende serviços de e-mail e armazenamento de dados oferecidos a clientes através da internet, trocou seus servidores Dell por máquinas da Sun. Quando todos os fatores foram levados em conta, os computadores Sun não se revelaram mais caros e, ao longo tempo, permitiriam a Joyent poupar dinheiro. "Tínhamos sido condicionados a pensar na Sun como a alternativa mais cara, mas isso não é verdade", diz o executivo-chefe da Joyent, David P. Young.

Mas a recuperação da Sun está longe de assegurada. Embora as receitas tenham crescido 29% no trimestre passado, a companhia continua perdendo muito dinheiro. Seu prejuízo líquido de US$ 301 milhões no quarto trimestre fiscal encerrado em 30 de junho incluiu US$ 228 milhões em encargos de reestruturação. E embora a participação da Sun no mercado de servidores tenha aumentado para 12,9% naqueles três meses, ela ainda está abaixo de um pico de 16,7% registrado em 2000, segundo a IDC, uma firma de pesquisa de mercado.

"Não considero isso sustentável", diz David V. Gelardi, um vice-presidente da IBM, que lidera as vendas de servidores com uma participação de 31%. A Sun mal aparece no importantíssimo mercado dos denominados "blade servers" (servidores em lâminas), máquinas enxutas e densas cada vez mais utilizadas em grandes companhias.

Grande parte do crescimento da Sun veio da venda de servidores baratos baseados no microprocessador Opteron, da Advanced Micro Devices (AMD). Trata-se de uma linha de negócios que produz pequenas margens. O desafio, para a Sun, é manter o alto nível de investimentos necessários para financiar o desenvolvimento de seu próprios chips e servidores de alto desempenho. A companhia gastou US$ 2,05 bilhões em pesquisa e desenvolvimento no ano fiscal passado, ou 15,5% de suas receitas. A Dell investe apenas 1% em pesquisa e desenvolvimento. Analistas dizem que a Sun terá de incrementar as vendas de software para fortalecer as margens.

Um indicador a ser observado é como os consumidores acolherão o sistema operacional Solaris, da Sun. A companhia distribui uma versão com fonte aberta do Solaris para tentar conquistar adeptos, e Schwartz diz que 70% dos pacotes de software livre têm sido instalados em computadores Dell, IBM e Hewlett-Packard (HP). Se a Sun conseguir persuadir esses usuários a comprar licenças de uso do Solaris e, por fim, eles passarem a usar o hardware da Sun, uma renascença sustentável poderá estar a caminho.