Título: CSA negocia venda de escória de aço com cimenteiras
Autor: Durão, Vera Saavedra
Fonte: Valor Econômico, 02/10/2006, Empresas, p. B6

A Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), projeto liderado pela alemã ThyssenKrupp que começará a operar no Rio em março de 2009 com investimentos de 3 bilhões de euros, negocia com produtores de cimento no Brasil, entre os quais Votorantim, Camargo Corrêa e Lafarge, a venda de grandes volumes de escória granulada de aciaria. O subproduto siderúrgico é usado como insumo na produção de cimento. Até o fim do ano a CSA deve fechar contrato de venda de 1,4 milhão de toneladas anuais para uma ou duas cimenteiras.

Hans-Ulrich Lindenberg, presidente do conselho de administração da CSA, disse que a empresa fez consultas a vários produtores de cimento e a maioria está interessada em comprar o produto. "Vamos conversar com eles (os fabricantes de cimento) e escolher a melhor proposta", afirmou Lindenberg. No Estado do Rio existem quatro grandes produtores de cimento - Votorantim, Tupi, Lafarge e Holcim - que poderão valer-se da proximidade geografia com a CSA, a ser construída no distrito industrial de Santa Cruz, na capital, para abastecer-se da matéria-prima.

"Haverá disponibilidade adicional de escória, o que é bom para as empresas do setor, mas a demanda pelo insumo dependerá da situação do mercado de cimento no futuro", avaliou José Otávio Carneiro de Carvalho, secretário-executivo do Sindicato Nacional da Indústria do Cimento. Além de escória de aciaria, a CSA terá outra receita adicional: a venda de metade da energia gerada em termelétrica própria, de 490 megawatts (MW).

A previsão é de que a CSA produza a primeira placa de aço em 2009. No ato simbólico de início das obras, na sexta, o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, previu que a usina deve gerar receita anual de US$ 2 bilhões com a exportação de 100% da produção para Europa e América do Norte. Com capacidade de produzir 5 milhões de toneladas por ano, a CSA vai exportar 2 milhões de toneladas para a abastecer as usinas da ThyssenKrupp na Alemanha e 3 milhões para atender aos projetos nos Estados Unidos e Canadá.

Karl-Ulrich Köhler, presidente do conselho executivo da ThyssenKrupp Steel, trabalha em duas frentes para aumentar a participação de mercado na América do Norte. Uma delas é a compra da canadense Dofasco, pertencente à Arcelor Mittal, por preço fixado em 3,8 bilhões de euros. A outra é a construção de uma fábrica de laminação a quente que irá processar placas fornecidas pela CSA, que tem a Thyssen com participação de 90% e a Companhia Vale do Rio Doce com os restantes 10% do capital.

A nova laminadora do grupo nos EUA tem investimento estimado em 1,8 bilhão de euros e terá capacidade de processar 4,5 milhões de toneladas por ano.

Como a produção da CSA não seria suficiente para atender a Dofasco e a nova laminadora, Köhler admitiu que a CSA poderá passar por uma expansão. "Há potencial para duplicar a CSA. A instalação de uma laminação (no Rio) não foi considerada, mas também pode ocorrer no futuro", disse Köhler.

Wagner Bittencourt de Oliveira, diretor das áreas de insumos básicos e infra-estrutura do BNDES, disse que a CSA solicitou empréstimo de R$ 1,1 bilhão, que já enquadrou o projeto. No total, a Thyssen deve investir entre 17 bilhões de euros e 20 bilhões de euros nos próximos cinco anos, dos quais 10 bilhões de euros serão aplicados na manutenção das operações no mundo e o restante em aquisições e no crescimento do grupo, incluindo o projeto da CSA.

Aristídes Corbellini, presidente da CSA, disse que empresa tem carta assinada com a Abimaq segundo a qual a entidade aceita a compra de um percentual dos equipamentos no mercado nacional. O Valor apurou que a CSA se comprometeu a ter um conteúdo nacional mínimo de 46%.