Título: BB revisa estratégia de atuação para a AL
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 02/10/2006, Finanças, p. C4

O Banco do Brasil (BB) está revisando sua estratégia para a América Latina. Com filiais na Venezuela, Peru, Bolívia, Chile e Paraguai, além da Argentina (a do Uruguai está em processo de fechamento), a intenção é "aumentar os negócios com outros bancos, com objetivo de aumentar o volume de negócios com as empresas da região", explicou Alexandre Cardoso, gerente geral e principal executivo do BB em Buenos Aires.

O BB espera ampliar a capacidade de captação de recursos interbancários na região, através de acordos para operações de derivativos, linhas comerciais e linhas de crédito alinhadas com a estratégia do governo brasileiro para estimular o comércio exterior e investimentos. A revisão estratégica está em análise em Brasília e deve ser concluída no início de 2007.

A operação argentina do banco já tinha passado por uma reestruturação depois da crise de 2001. Focado em negócios corporativos, até aquele ano, o BB trabalhava com qualquer empresa argentina ou brasileira desde que apresentassem um limite mínimo de faturamento. A partir de 2003 passou a trabalhar apenas com empresas brasileiras ou multinacionais que sejam clientes do banco no Brasil. "Fizemos uma depuração da base de clientes", diz Cardoso, que não revela qual foi o prejuízo do BB com a crise argentina. O BB não está constituído como banco na Argentina, mas como uma sucursal de um banco estrangeiro, o que limita muito sua atuação. A grande maioria de seus 1,1 mil clientes são pessoas jurídicas, sendo que 60% são empresas brasileiras ou multinacionais instaladas no Brasil e 40% argentinas que mantém negócios com o Brasil.

Não tem rede de agências e as poucas pessoas físicas que atende são funcionários das empresas-clientes, funcionários públicos do governo brasileiro, aposentados e turistas. Ainda assim, só abre contas correntes para movimentos acima de US$ 3 mil mensais e não pode oferecer cartões de crédito para estas pessoas. Ocupa três andares de um enorme edifício de 22 andares na Av. Sarmiento, bem no centro da capital portenha, que foi construído no fim dos anos 70 quando desembarcou na Argentina por força de um decreto presidencial, resultado de um acordo entre os dois governos. Os 55 funcionários da instituição ocupam os três primeiros andares e os demais são alugados.

A partir de 2005, o banco começou um programa de financiamento de exportações de empresas argentinas que vendem ao Brasil, dentro do programa de substituição de importações do governo brasileiro - que visa estimular a compra de produtos produzidos no Mercosul. Nesse caso, o banco assume o risco do importador brasileiro.

Os recursos emprestados pela sucursal argentina do BB são limitados ao capital próprio do banco, de US$ 20 milhões, enquanto operações estruturadas envolvendo crédito, assessoria e emissão de títulos utiliza o capital do banco e sua estrutura de captação no exterior, a partir da matriz em Brasília. "Nossa exposição é muito maior que o valor do capital", acrescenta Cardoso. "Nosso conceito é de trabalho de nicho, concentrado em duas linhas de negócios: assistência creditícia e financiamento e serviços de comércio exterior como emissão de cobranças e cartas de crédito", define Cardoso.

Segundo ele, o volume de negócios vem crescendo junto com a expansão das empresas brasileiras para o exterior. "Esse processo (de internacionalização), que já vinha se consolidando, se acentuou a partir de 2003 e aqui algumas empresas que haviam saído por causa da crise começaram a voltar e reconquistar mercado." (JR)