Título: Destino de Dirceu terá reflexos nas alianças de 2014
Autor: Basile , Juliano
Fonte: Valor Econômico, 01/08/2012, Política, p. A8

Independentemente do resultado do julgamento do mensalão, a presidente Dilma Rousseff será a candidata do PT à reeleição, em 2014. Dilma só não será candidata em duas hipóteses: por decisão pessoal ou se o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva quiser ou for persuadido a disputar novamente a Presidência da República.

Lula tem afirmado que não será candidato, até mesmo porque não teria como fazer um governo melhor do que considera ter feito no segundo mandato. Dilma, por outro lado, já começou a se movimentar politicamente. Prova disso é que assumiu a articulação para o PT lançar um candidato próprio à Prefeitura de Belo Horizonte.

Persuasão é uma palavra a ser incorporada ao dicionário político porque, se Lula estiver sendo sincero ao dizer que não pretende disputar nova eleição, muitos aliados, principalmente os que perderam espaço no governo Dilma, não pensam em outra coisa.

Na agenda do PT, tanto o julgamento como as eleições municipais são importantes no planejamento para 2014. O partido nunca cedeu tanto como 2012, a fim de segurar aliados para as eleições presidenciais.

No julgamento que começa depois de amanhã, a eventual absolvição de José Dirceu terá reflexos na definição da estratégia e da política de alianças do PT para 2014. Mesmo à sombra, é fato que Dirceu tem grande influência no PT. Absolvido, pode até retomar o comando do partido.

Vistas de hoje, a condenação ou absolvição do ex-ministro em nada muda a condição de Dilma de candidata à reeleição. O ex-ministro da Casa Civil monitora as articulações da presidente, avalia que ela tem procurado ocupar espaço próprio dentro das regras do jogo e já disse por mais de uma vez que a presidente é sua candidata em 2014.

A volta de Dirceu ao centro do palco, no entanto, poderá ter outras implicações. Na relação com o PMDB, por exemplo, partido que tem o vice-presidente, mas se acha relevado no governo Dilma.

Nas negociações sobre a eleição em BH, Dilma falou num "cargo federal em Minas" para compensar a adesão do PMDB ao candidato Patrus Ananias (PT). O vice Michel Temer não conseguiu convencer a bancada.

Uma nova consulta e o intermediário entre Dilma e o PMDB voltou com a promessa de um "cargo em Brasília".

O PMDB mineiro, no entanto, entendeu que "um cargo em Brasília", quer dizer "Ministério dos Transportes". E essa não é a intenção da presidente. Dilma fará mudanças na equipe, que não quer caracterizar como reforma, mas por enquanto não está em seus planos dar os Transportes para o PMDB.

Dirceu pode desempenhar um papel nessa aproximação, pois só a popularidade de Dilma tem contido o PMDB nas votações de interesse do governo no Congresso. Diversos líderes do PMDB telefonaram para Dirceu desejando-lhe boa sorte no STF. O problema do partido do vice-presidente é ter perdido ministérios que rendem votos, como Saúde e Integração Nacional.

Além de blindar o governo, a presidente deve fatiar as medidas que deve adotar em agosto. No plano de voo do Planalto, Dilma primeiro anunciaria as desonerações da indústria, depois as concessões de estradas e rodovias e, por fim, as medidas energéticas ainda em estudo.