Título: Thomaz Bastos abandona defesa de Cachoeira
Autor: Basile , Juliano
Fonte: Valor Econômico, 01/08/2012, Política, p. A8

O ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos deixou formalmente a defesa do contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. O advogado evitou falar sobre as razões que o levaram a tomar a decisão, mas interlocutores próximos asseguram que Bastos sentia-se desconfortável com o que chamaram de "diferença de métodos".

Nos últimos cinco meses, uma série de eventos relacionados ao caso Cachoeira teria incomodado o ex-ministro da Justiça. Pelo menos dois exemplos são citados. As ameaças a integrantes do Judiciário e do Ministério Público Federal, aos quais Bastos sempre foi muito ligado, até o assassinato suspeito de um agente da Polícia Federal que trabalhou na operação Monte Carlo, muito embora até agora a relação entre os fatos não tenha sido comprovada.

Formalmente, a equipe de Bastos atribui a saída a "desgastes naturais da causa". O caso Cachoeira demanda um trabalho minucioso de defesa que não se restringe aos tribunais e à polícia. Envolve ainda a investigação do Congresso por meio de uma CPI, em que Bastos também atuou.

No Judiciário, nenhum dos pedidos feitos pelos advogados teve êxito. Foi uma sucessão de habeas corpus em todas as instâncias possíveis, para tentar revogar a prisão preventiva, mas sem sucesso - Cachoeira está preso desde 29 de fevereiro. A relação do contraventor e seus familiares com os advogados passou por alguns atritos e, há algumas semanas, a saída do caso começou a ser discutida.

O grupo de Cachoeira fez circular informações de que o cliente estaria insatisfeito com o desempenho da defesa. Os interlocutores de Bastos afirmam que o contraventor criou uma expectativa além do que seria efetivamente possível de cumprir pelas vias legais, como a de ser imediatamente solto.

Advogados que atuaram no caso minimizaram os atritos dizendo que desgastes são comuns em processos criminais. "Estava previamente combinado com a família e com ele [Cachoeira] que depois das audiências haveria uma transição", disse a advogada Dora Cavalcanti, que atuou nas audiências da Justiça Federal em Goiânia.

"Foram cinco meses longos de trabalho intenso. O desgaste é natural e achamos que era importante a entrada de um escritório novo, que siga com as teses de defesa, que são excelentes", afirmou Dora. Ela negou que o estopim tenha sido a suposta tentativa de Andressa Mendonça, noiva de Cachoeira, de chantagear o juiz da causa em Goiânia, Alderico Rocha Santos.

O advogado Augusto Botelho, que também integrou a defesa de Cachoeira, repetiu que a saída foi causada por um "desgaste natural", mas se negou a apontar acontecimentos concretos que tenham gerado esse desgaste. "Foi uma saída natural, amigável, que estava sendo conversada com a família já havia algumas semanas", disse Botelho.

Márcio Thomaz Bastos está sobrecarregado este mês porque atua também no julgamento do mensalão, na defesa de José Roberto Salgado, executivo do Banco Rural na época em que estourou o escândalo da compra de votos no Congresso.