Título: PT perde um terço de seus votos para a Câmara federal
Autor: Felício, César
Fonte: Valor Econômico, 03/10/2006, Política, p. A7

O PT perdeu cerca de um terço de sua votação para a Câmara dos Deputados, segundo dados não oficiais da apuração das eleições proporcionais nos Estados. Em 2002, em uma campanha nacionalizada, o partido conseguiu cerca de 18% dos votos. Desta vez, em uma eleição onde o fator regional prevaleceu, a sigla caiu para 12,6%.

A queda da votação petista foi afetada pela onda de denúncias que assola os integrantes do partido, mas este não foi o fator determinante. O PSDB, segundo partido mais votado em 2002, também reduziu sua votação, caindo de 14,3% para 11,7%. Também o PFL recuou, diminuindo de 13,3% para 10,3%.

A verticalização das coligações, aliada à cláusula de barreira, fez com que a grande maioria dos partidos adotasse a regionalização absoluta das suas estratégias como saída para sobreviver. Priorizaram a construção de alianças para os governos estaduais, como forma de aumentar a competitividade dos candidatos a deputado federal.

O PSB, por exemplo, que deverá atingir a cláusula de barreira, desistiu de apoiar formalmente a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em função disto: quis ficar livre para compor nos Estados. Em Alagoas, por exemplo, aliou-se ao PSDB. O PPS deixou de apoiar formalmente o tucano Geraldo Alckmin pelo mesmo motivo, ainda que não tenha conseguido os 5% para escapar da cláusula de barreira. O partido quis ficar livre para alianças, sobretudo nos Estados onde priorizou a reeleição de seus governadores, no Mato Grosso e em Rondônia.

Cresceram este ano exclusivamente as siglas que não se vincularam à campanha presidencial e as que estavam ameaçadas pela cláusula de barreira e deram prioridade absoluta às eleições proporcionais, sem lançar candidato majoritário para a presidência, como fizeram o PDT e o P-SOL

O PMDB recuperou a posição de partido mais votado do Brasil em eleições proporcionais, que havia perdido na eleição passada. Subiu levemente, de 13,3% para 13,8%. O partido não teve candidato na eleição presidencial, disputa o segundo turno nas eleições para governador em seis Estados e já elegeu quatro governadores no primeiro turno.Partidos pequenos e médios apresentaram grande crescimento, sobretudo os que possuem alguma coloração esquerdista. O PV pulou de 1,35% para 3%. O PPS, de 3% para 3,7%. O PSB foi de 5,2% para 5,9%.

Apesar da forte queda na votação, o PT não foi atingido da mesma maneira na redução de sua bancada. Ao contrário do que o caracterizou até a eleição de 2002, o PT tornou-se um partido extremamente capilarizado. Elegeu este ano deputados em 21 dos 27 Estados, o mesmo desempenho do PFL. O PSDB, por sua vez, conseguiu fazer deputados em dezoito Estados.

Além de PT, PSDB e PFL, grandes perdas de votação foram registradas para os partidos de médio porte sem corte ideológico, que foram associados fortemente ao PT no escândalo do mensalão: PL, PP e PTB. O PL viu sua votação cair de 4,3% para 4,1% dos votos, ficando fora da cláusula de barreira. O PTB reduziu a votação de 4,6% para 4,4%. O PP caiu de 7,8% para 6,7%.

A queda partidária mais drástica foi a ocorrida com o Prona, em função da relativamente pequena votação obtida pelo líder da sigla este ano, Enéas Carneiro. O Prona caiu de 2% para 0,8% do total de votos. Em 2002, o deputado conseguira 1,6 milhão de votos em São Paulo, a maior votação registrada para a Câmara na história. Este ano, não passou de cerca de 200 mil.

A pulverização partidária aumentou na disputa deste ano. Enquanto em 2002 os quatro maiores partidos conseguiram 58% dos votos para a Câmara, este ano as quatro grandes legendas conquistaram somente 46% dos sufrágios. Das 29 siglas que concorreram este ano, nada menos que dezesseis não conquistaram ao menos 1% dos votos., número bastante semelhante ao de 2002, quando houve quinze partidos abaixo de 1%.