Título: PMDB é o único a aumentar bancada
Autor: Felício, César
Fonte: Valor Econômico, 03/10/2006, Política, p. A7

O PMDB foi o único dos quatro grandes partidos cuja bancada cresceu em relação a 2002 na Câmara, ao passar de 75 para 86 deputados. Mais do que nunca, o partido será, como gosta de se definir, "o fiador da governabilidade" de um segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ou de um governo do tucano Geraldo Alckmin, caso este ganhe no segundo turno.

A eleição se processou sob o signo de uma alta renovação. O índice de deputados que não figuraram como eleitos na disputa de 2002 é de 52%, o mais alto desde a eleição de 1994. Mas a renovação se distribuiu no Brasil de modo extremamente desigual. Em Goiás, 14 dos 17 deputados do Estado foram reeleitos. Em Minas Gerais, 27 foram reeleitos e 27 estão chegando à Câmara agora. Em São Paulo, são 46, entre os 70 parlamentares, os que representam novidade na composição da Câmara dos Deputados.

O PT, que elegeu 91 parlamentares em 2002, ficou este ano com 82. Como o partido está atualmente com 83 deputados, em função da saída de parlamentares para o P-SOL, PV e PDT, o partido mantêm-se estável, com um desempenho muito superior ao inicialmente previsto quando começou a sucessão de escândalos do governo federal.

Coligado ao PT, o PC do B subiu de doze para quatorze deputados e o PRB do vice-presidente José de Alencar elegeu apenas um deputado. A coligação formal de Lula não passou de noventa e sete deputados, muito menos do que os 131 que conseguiu há quatro anos.

PSDB e PFL, somados, elegeram 134 parlamentares. Isto coloca Geraldo Alckmin aproximadamente com a mesma base parlamentar que Lula tinha em 2002, caso o tucano ganhe a eleição presidencial deste ano. Se for eleito, Alckmin não poderá prescindir do PMDB e dos pequenos partidos para formar maioria parlamentar, da mesma forma como Lula fez neste mandato e como terá que fazer em um eventual segundo mandato, caso se reeleja.

O papel estratégico dos pequenos e médios partidos aumentou este ano, com o crescimento das bancadas das siglas que ficaram sob ameaça da cláusula de barreira e priorizaram a eleição parlamentar. O PSB passou de 22 para 27 cadeiras. O PPS de foi de quinze para 20 assentos, o PDT subiu de 21 para 22, o PV passou de 5 para doze cadeiras.

Estes partidos de tom esquerdista passaram portanto de 63 para 81 cadeiras, ou 84, caso se considere o P-SOL. Os micropartidos sem corte ideológico, capitaneados pelo PSC, com nove deputados, subiram de 17 para 23 parlamentares.

Em geral, os partidos pequenos de esquerda possuem um comando nacional e fazem oposição ou apoio ao governo no Congresso de acordo com a sua posição na eleição nacional. Mas os partidos sem a coloração esquerdista não contam com uma estrutura centralizada, funcionando na prática como legendas de aluguel para políticos dissidentes dos grandes partidos por questões regionais. Em geral, obedecem à orientação dos governadores de cada Estado.

Os partidos médios sem coloração ideológica, que tiveram a imagem associada ao PT no escândalo do mensalão foram fortemente atingidos. O PP caiu de 49 para 42 parlamentares, o PTB decresceu de 26 para 23 deputados e o PL patinou de 26 para 25, sendo que os dois últimos partidos devem ser vitimados pela cláusula de barreira.

O índice de pulverização partidária também aumentou da legislatura de 2002 para esta. Há quatro anos, as quatro maiores siglas elegeram 321 deputados, de um total de 513. Este ano, PT, PMDB, PSDB e PFL fizeram somados 302 parlamentares.

Não tiveram nenhum grande campeão de voto: nesta eleição, os deputados mais votados pertencem a legendas como PTC (Clodovil Hernandes, em São Paulo), PP (Paulo Maluf e Celso Russomanno, em São Paulo), PV (Fernando Gabeira, no Rio de Janeiro) e PSB (Ciro Gomes, no Ceará). Na eleição passada, exceção feita ao fenômeno Enéas, parlamentares petistas José Dirceu (PT-SP) conseguiram grandes votações.