Título: 'Herdeiro' de Severino garante que baixo clero elegerá Aldo Rebelo
Autor: Lyra, Paulo
Fonte: Valor Econômico, 15/01/2007, Política, p. A8

Considerado herdeiro político de Severino Cavalcanti (PP-PE), que o trata como filho, o segundo vice-presidente da Câmara, Ciro Nogueira (PP-PI), está convencido de que o baixo clero elegerá Aldo Rebelo (PCdoB-SP) presidente da Câmara no dia 1º de fevereiro. Nogueira afirma que, além dele, outros 40 deputados estão fazendo um trabalho de convencimento minucioso, abordando parlamentar por parlamentar, em contraponto aos "anúncios estrondosos de alianças de cúpulas" feitos pela campanha de Arlindo Chinaglia (PT-SP). "Baixo clero odeia acordo de cúpula. Pode escrever o que eu digo: o PT não elege ninguém com o voto secreto em plenário", desafiou Nogueira.

O deputado do PP reconhece que a campanha de Chinaglia tem sido hábil nas alianças políticas fechadas nos últimos dias. No início do processo de sucessão, aliados de Aldo estimavam que a vantagem do comunista era folgada - aproximadamente 100 votos, quase um quinto da Câmara. Quando o PMDB anunciou o apoio ao petista, essa vantagem diminui, pelas contas de Nogueira, para 60 votos. "Aquilo foi uma brincadeira. Aceitar voto por fax em uma reunião que não tinha metade da bancada é brincadeira", comentou.

Veio o apoio do PSDB, classificado por Nogueira como golpe. Segundo ele, Aldo tinha como certo o voto de 50 dos 66 deputados tucanos. "Podemos perder de 20 a 40 votos com isso. Ainda assim, manteremos uma dianteira de 20 votos", estimou.

O parlamentar do PP lembra que, na última semana, Aldo ficou extremamente angustiado com os movimentos políticos anunciados por Chinaglia. "Ele passou o trator e o Aldo ficou preocupado. Nos procurou. Mostrei a ele que não precisava ter medo, que a situação ainda estava sob controle".

Nogueira orgulha-se de ter herdado de Severino a capacidade de sentir os humores do plenário. Diz, confiante, que jamais errou ao calcular votos em plenário. Foi essa confiança que ele buscou transmitir para o candidato comunista. O segundo vice-presidente da Casa conta com o PFL em peso e mais o voto silencioso de seus colegas de Câmara. "Essa estratégia de Chinaglia de buscar o apoio das cúpulas partidárias e dos líderes nos fortalece", assegura.

Por isso, em sua opinião, a candidatura adversária tem pressa em fazer com que Aldo Rebelo desista. Para o pepista, Chinaglia sabe que precisa resolver logo a disputa. Com as duas candidaturas chegando ao plenário, o cenário para os petistas pioraria. Um eventual segundo turno, então, enterraria as ambições do PT. "Vai se repetir o mesmo fenômeno Greenhalgh (Luiz Eduardo Greenhalgh, do PT paulista, que perdeu a disputa contra Severino Cavalcanti em 2005). O Chinaglia terá menos votos no segundo turno do que no primeiro", adiantou.

Apesar de conhecer o baixo clero, Nogueira impressionou-se com a facilidade com que alguns parlamentares acreditaram nas promessas feitas pelo comando de campanha de Chinaglia. "A operação deflagrada pelos aliados de Chinaglia foi muito bem feita. O problema é que eles vão ter que cumprir as promessas feitas antes do dia 1º de fevereiro". A exemplo do próprio Aldo, Nogueira não acredita que o presidente Lula esteja participando das ofertas de cargos e da liberação de emendas. Nem tampouco que ele avalizará essa ação política.

Defensor ardoroso do reajuste salarial dos deputados, Nogueira ironizou as afirmações de Chinaglia a favor do salário de R$ 24,5 mil para os parlamentares, o que igualaria os vencimentos aos dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). "Isso é brincadeira, deputado não é menino. Todos viram a barulheira da opinião pública contra isso. Quem acreditar nessa promessa de Chinaglia deve acreditar também em papai Noel", declarou ele, enterrando a hipótese de que essa estratégia do petista possa render-lhe votos entre os deputados do baixo clero.

Aldo e seus aliados ainda têm mais um trunfo sob a manga: não está afastada a hipótese do lançamento de uma terceira candidatura para pulverizar os votos em plenário e levar a disputa para o segundo turno. No final do ano passado, o baixo clero pressionou para que Inocêncio Oliveira (PR-PE) se lançasse candidato. Inocêncio deu declarações públicas de apoio ao candidato comunista. As pressões diminuíram.

Esse cenário poderá retornar. "Para eleger Aldo, forçando um segundo turno, seremos capazes de tudo. Tanto eu quanto o Inocêncio estaríamos dispostos a, no extremo, nos lançarmos candidatos". Para Nogueira, o importante é não deixar que o PT comande a Câmara. "Eles já têm a Presidência da República. São sectários, incapazes de cumprir acordos. Os parlamentares precisam de um local para apresentar seus pleitos, desafogar suas queixas. Um presidente da Câmara petista inviabilizaria isso", justificou Nogueira.