Título: Para ministro, demissões na GM não rompem acordo
Autor: Giffoni , Carlos
Fonte: Valor Econômico, 31/07/2012, Brasil, p. A4

O ministro do Trabalho, Brizola Neto, fez uma avaliação diferente da de outros membros do governo sobre a possibilidade de demissões na fábrica da General Motors (GM) em São José dos Campos. Segundo ele, o impasse na unidade, que ameaça a demissão de 1,5 mil trabalhadores do setor de montagem de veículos automotivos, é anterior ao compromisso firmado pelas montadoras em não demitir como contrapartida à redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI).

"A GM vem trazendo essa questão em São José dos Campos há alguns anos, antes mesmo da crise financeira internacional de 2008, do anúncio do plano Brasil Maior e dos setores que estariam sendo desonerados. Não se fala em demissões, mas em realocação de postos de trabalho", disse Brizola Neto. "Existe uma decisão empresarial que precisa ser respeitada. Tentamos [o ministério do Trabalho] diluir os efeitos dessas demissões na região. O governo está atento à questão regional."

Brizola Neto reforçou que há um compromisso da GM em realocar esses postos de trabalho nos outros parques industriais da empresa no país, em São Caetano do Sul (SP) e Gravataí (RS). Questionado sobre as demissões no setor automotivo, ainda que o saldo final seja positivo, Brizola Neto afirmou que "as demissões [na GM] ainda não ocorreram" e que "a presidente Dilma Rousseff foi clara ao dizer que o governo espera a manutenção dos empregos".

O ministro confirmou que está marcado para 4 de agosto um novo encontro entre diretores da GM, dirigentes sindicais e representantes do Ministério do Trabalho, em que se seguirão as conversas em busca de uma saída para as demissões programadas pela GM na região, mas segundo apurou o valor, os dirigentes da montadoras devem se encontrar hoje mesmo com integrantes do Ministério da Fazenda. Na terça-feira passada, a GM suspendeu as atividades na fábrica de São José por um dia, concedendo licença remunerada para os 7,5 mil funcionários da unidade.

Brizola Neto ainda defendeu que a desoneração da folha de pagamento em troca de uma contribuição sobre o faturamento continue sendo concedida a setores específicos, que necessitam mais de redução da carga tributária. "As desonerações são renúncias fiscais que precisam ser muito bem avaliadas para garantir retornos. Desoneração é dinheiro que o governo deixa de arrecadar para setores como saúde e educação, por isso precisa ser estudada", afirmou.

O ministro não descartou que as desonerações continuem acontecendo, mas sempre de maneira setorial e não de forma generalizada. Ele disse, durante almoço em São Paulo, que os setores beneficiados com a desoneração da folha ou a redução do IPI têm apresentado resposta na produção e que apenas no setor automotivo a recuperação ainda não foi confirmada. "Mas o varejo já deu sinais de que o setor automotivo vai responder bem aos estímulos", disse.

Brizola Neto afirmou que a carga tributária no Brasil é um entrave ao desenvolvimento nacional e que o governo busca fazer uma reforma tributária "em blocos". Somados à carga tributária elevada, Brizola Neto citou o câmbio e os juros como fatores que podem atrapalhar o crescimento do país. "O governo tomou uma série de medidas nesse sentido para dar competitividade ao país. A taxa de juros tão baixa como está é um convite ao desenvolvimento."