Título: Correa trilha o mesmo caminho de Evo e Chávez
Autor: Agências Internacionais
Fonte: Valor Econômico, 15/01/2007, Internacional, p. A11

Rafael Correa, que toma posse hoje como presidente do Equador, ganhou fôlego para levar adiante seu projeto de reformar a Constituição e "refundar" o país, adotando reformas que ele mesmo admite serem semelhantes às do presidente venezuelano, Hugo Chávez. Mas a forma com que essa Constituinte se formará, sua duração e os temas que abordará ainda são incertos.

Ontem, em uma cerimônia indígena em Zumbahua, nos Andres, da qual participaram Chávez e o presidente boliviano Evo Morales, Correa cutucou seus opositores ao dizer que não precisa de aprovação do Congresso para uma assembléia de reforma da Constituição. "Posso enviar a proposta de referendo da convocação da Constituinte ao Congresso apenas para seu conhecimento, não para sua aprovação", disse Caldera, que também fez alusão a "lobos em pele de cordeiro" que podem ser "traidores". Chávez, que também discursou, disse que "uma assembléia constituinte é o único caminho pacífico para refundar a república e fazer as reformas sociais e econômicas".

O partido Sociedade Patriótica, que tem como eminência parda o ex-presidente Lucio Gutiérrez, anunciou na sexta-feira o seu apoio ao governo. Com os 24 deputados da Sociedade Patriótica, Correa contará com o apoio de 54 dos 100 congressistas. Já faziam parte de sua base os deputados eleitos pela social-democracia, pelos movimentos indígenas e por outros partidos menores.

Não há nenhum deputado do partido de Correa, a Aliança País, pois a agremiação eleita não apresentou candidatos, sob a alegação de que o Congresso unicameral não "representa a cidadania, e sim máfias políticas".

Uma das principais propostas de reforma política de Correa é obrigar os deputados a morarem em seus distritos políticos, com o objetivo de aproximá-los da realidade do povo. A oposição de direita diz que Correa quer limitar ilegalmente seus poderes.

Os aliados do governo afirmam que não houve nenhum acordo político, e sim adesões voluntárias ao projeto de "refundar o país".

O analista Santiago Nieto considerou que, "para o país, é bom que as pessoas queiram colaborar. Vejo com bons olhos que não haja confrontação grave até agora".

Os detalhes sobre o que se pretende com uma Constituinte não são absolutamente claros. Durante a campanha, Correa havia adotado uma retórica nacionalista, principalmente em relação ao setor de petróleo - segundo ele, é necessário resgatar as "riquezas do povo equatoriano" das mãos das empresas petrolíferas internacionais. Analistas entretanto crêem que uma estatização geral não seria possível num primeiro momento, por causa da falta de estrutura técnica dos equatorianos e da falta de capacidade de investimentos.

A Petrobras explora dois campos no país. Um deles produz cerca de 35 mil barris por dia, e o outro ainda está em desenvolvimento. Apesar da polêmica em que está envolvida por causa desse segundo campo, que se localiza dentro de uma área de proteção ambiental, a empresa diz ter confiança no respeito aos contratos já firmados no país.

Correa, um economista de 43 anos com pós-graduação na Bélgica e nos EUA, diz que há um "colapso do Estado" no Equador.

Espera-se que hoje ele dê sinais de como tratará a questão da dívida soberana. Na campanha, ele chegou a cogitar uma moratória "no estilo argentino" ou, de forma menos radical, uma reestruturação, para que pudesse investir mais na área social.

Na semana passada, a posição de Correa ganhou força após a divulgação das conclusões de uma comissão formada pelo presidente Alfredo Palacio para auditar as dívidas do país. A comissão disse que os bônus globais emitidos nos últimos 30 anos são "ilegais" e classificou a reestruturação da dívida feita em 2000 de "um assalto" ao país.

Apesar disso, segundo a agência de notícias Bloomberg, os detentores de bônus do Equador não acreditam que Correa vá adiante em sua ameaça de não pagar a dívida externa do país, de US$ 11 bilhões. Entre outros motivos, eles apontam o fato de o Equador estar aumentando sua receita com as exportações de petróleo. "Não há razão para a inadimplência, ele pode pagar", afirmou Arthur Byrnes, da americana Deltec Asset Management.