Título: Mineiro articula movimento de governadores eleitos
Autor: Agostine, Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 03/10/2006, Política, p. A10

Ninguém poderá acusar o governador reeleito de Minas, Aécio Neves (PSDB), de ter feito corpo mole na campanha de Geraldo Alckmin. Os 40% de votos para o candidato tucano no Estado - bem mais que os 23% dados a José Serra no primeiro turno de 2002 - superaram todas as expectativas. Para o segundo turno, Aécio já se comprometeu a colaborar como for necessário, dentro e fora de Minas. Mas é no próprio projeto político que ele já está focado. Ontem mesmo deu o recado: quer ser o construtor de um pacto nacional entre os governadores eleitos, antes mesmo da posse.

Poucas horas depois da reeleição consagradora, com 77% dos votos válidos, Aécio tratou de ligar para alguns dos governadores já eleitos, independentemente de partido. A meta do mineiro é unir os governadores em torno de uma proposta de consenso sobre a reforma tributária, incluindo pontos como uma nova concepção para a Lei Kandir. Avisou que vai trabalhar nisso nas próximas semanas. Depois do dia 29, vai procurar também os governadores que forem eleitos no segundo turno. "Não gostaria de deixar que seja discutido apenas no ano que vem".

A idéia do tucano é que, antes mesmo da posse, os governadores eleitos já tenham uma proposta de consenso, com pedido de urgência, para entregar às presidências da Câmara e do Senado. "Acho que nós poderíamos de alguma forma inverter ao invés de aguardar permanentemente que o governo central apresente propostas ao Congresso para que nós a apoiemos", afirmou. "Sou um construtor de pactos, não sou por natureza um dinamitador de pactos."

O papel de articulador de uma aliança entre governadores, se tiver êxito, poderá ser um trunfo a mais na provável disputa interna no PSDB para definir quem será o próximo candidato à Presidência, comprovando sua habilidade para promover alianças em torno de seus projetos. Como ele próprio costuma definir, o melhor candidato é sempre aquele com melhores condições de construir uma ampla aliança.

As declarações de Aécio, em sua primeira entrevista como governador reeleito, indicam que ele continuará defendendo o discurso de nacionalização do PSDB. "Tem faltado ao PSDB uma presença mais nítida em determinadas regiões do país", afirmou. Segundo Aécio, é preciso atrair novas lideranças para a legenda. E fazer uma discussão profunda sobre um projeto voltado não só para os Estados onde os tucanos saíram consagrados, como São Paulo e Minas, mas também para os Estados onde o PSDB foi derrotado.

Embora faça questão de destacar suas boas relações pessoais com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Aécio fez ontem críticas ao que chamou de "menosprezo pela qualificação dos agentes políticos" na gestão petista. Para o tucano, falta ousadia ao governo de Lula do ponto de vista econômico, que está levando o Brasil a engatinhar enquanto o mundo avança em velocidade de supersônico.

De acordo com Aécio, Lula errou ao confiar na sua capacidade de comunicação com a população sem se preocupar com os resultados de seu governo. Falando especificamente em Minas, onde Lula perdeu milhares de votos na comparação com os resultados de 2002, o governador disse que o PT perdeu não apenas eleitoralmente mas também politicamente: "O PT de Minas deu um péssimo exemplo às gerações de hoje e às gerações futuras, subestimou a capacidade dos mineiros de compreender a política ao fazer alianças absolutamente oportunistas, contrariando a sua história e o seu passado", declarou, numa referência ao apoio de Lula para o ex-governador Newton Cardoso (PMDB), inimigo histórico do PT, derrotado para o Senado pelo candidato de Aécio, o ex-ministro Eliseu Rezende (PFL).

Ontem, Aécio pediu licença a Eliseu para dedicar a vitória ao ex-presidente Itamar Franco (sem partido), num ato de desagravo. Com apoio de Lula, Newton venceu Itamar na convenção do PMDB que indicou o candidato ao Senado.