Título: PT e Crivella podem apoiar Cabral no RJ
Autor: Vilella, Janaina e Góes, Francisco
Fonte: Valor Econômico, 03/10/2006, Política, p. A12

A formação de uma frente contra o pemedebista Sérgio Cabral Filho no segundo turno das eleições no Rio de Janeiro pode estar ameaçada: a falta de um palanque estadual para a campanha do petista Luiz Inácio Lula da Silva pode alterar o quadro de alianças no Estado. Vladimir Palmeira (PT) e Marcelo Crivella (PRB) podem vir a apoiar o pemedebista, aliado do casal Garotinho (Rosinha Matheus, atual governadora do Estado do Rio, e seu marido, Anthony Garotinho). O casal foi alvo de duras críticas de todos os candidatos durante a campanha, que o associaram à Cabral, mas agora o discurso mudou.

Uma coligação de todos os partidos que não foram para o segundo turno no Estado contra Cabral esbarra no fato de que a candidata Denise Frossard (PPS), apóia o tucano Geraldo Alckmin, o que, em princípio, inviabilizaria a adesão do PT à sua chapa. Crivella viajou ontem para Brasília para conversar com o presidente Lula e o vice, José Alencar, antes de tomar uma decisão sobre quem apoiar no segundo turno. A assessoria de imprensa de Crivella sinalizou, em e-mail, que o senador deve apoiar Cabral. Ontem mesmo Lula afirmou que seria um "grande prazer" fazer comício ao lado de Cabral. Cabral conversou com o presidente Lula pelo telefone, enquanto Frossard espera ainda hoje um posicionamento oficial do PSDB sobre o apoio à sua candidatura.

O apoio de Crivella, terceiro colocado na corrida eleitoral, com 1.531.431 votos (18,54%), será crucial para Cabral e Denise. Crivella chegou a afirmar durante a campanha que apoiaria a juíza, caso não fosse para o segundo turno, mas ao saber do resultado final mostrou-se indeciso. Palmeira, do PT, afirmou que a executiva regional do partido se reúne na quinta-feira para definir uma posição: "Estamos numa sinuca de bico porque somos oposição radical ao Garotinho, mas temos que pensar na reeleição de Lula".

A executiva regional do PSDB também se reúne esta semana para traçar a estratégia para o segundo turno. A tendência, na avaliação do deputado federal reeleito Rodrigo Maia, presidente do PFL, no Rio, é de que o PSDB feche com a juíza, apesar das críticas do adversário tucano Eduardo Paes na campanha. "Aqui no Estado existe um objetivo comum: romper com o ciclo de Garotinho", disse Maia. "O Paes sempre foi um crítico do casal Garotinho no Estado, o que poderia ser um facilitador".

Cabral acredita que as alianças no segundo turno no Estado estarão relacionadas ao quadro nacional. Em entrevista à rádio CBN, Cabral disse que tem bom trânsito tanto com o PSDB, partido a que pertenceu, quanto o PT. O apoio ao PT ou ao PSDB para a Presidência tem que ser tomado com muita maturidade, buscando o melhor caminho, disse. Ao votar no domingo, em Campos dos Goytacazes, Garotinho, presidente regional do PMDB, acenou com a possibilidade de apoiar Alckmin no segundo turno. No primeiro, o ex-governador declarou voto em Heloísa Helena, do P-SOL.

O cientista político César Romero Jacob, professor da PUC-Rio, lembrou que Cabral se manteve neutro no primeiro turno, mas considerou possível que o senador apóie Lula seguindo a aliança informal PT-PMDB em nível nacional. Com isso, Cabral também se descolaria de Garotinho, seu aliado. "Cabral talvez prefira uma aliança com Lula. Assim, ele descartaria Garotinho, uma força política em decadência no Estado", disse Jacob.