Título: Bens de consumo puxam importação
Autor: Galvão, Arnaldo
Fonte: Valor Econômico, 03/10/2006, Brasil, p. A3

As importações de bens de consumo aceleraram em setembro, quando foram 55,6% superiores às de igual mês de 2005, pelo critério da média diária. Até setembro, no acumulado do ano, as compras externas de itens de consumo da população aumentaram 42,2%, segundo dados divulgados ontem pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério do Desenvolvimento.

A lista de bens de consumo que estão puxando a demanda por importações mostra itens típicos de final de ano - como artigos de vestuário (alta de 90%) e bebidas (mais 72,6%) -, além de itens de maior valor, como automóveis (17,5%%) e móveis e equipamentos para casa (50,1%).

No conjunto, as importações continuam crescendo em ritmo maior do que o das exportações. No mês passado, o aumento registrado sobre setembro foi de 35%, maior que os 32% verificados em julho. As exportações aumentaram 23,9% no mês passado.

Setembro também teve outro recorde histórico: a média diária das importações foi de US$ 406,1 milhões. Foi a primeira vez que a barreira dos US$ 400 milhões foi superada. Nas exportações, a média foi de US$ 627,5 milhões. Considerando as médias diárias, o período entre janeiro e setembro mostrou aumentos de 16,8% nas exportações e 24% nas importações. A comparação é com o mesmo período no ano passado.

O crescimento de 35% das importações, em setembro, resultou de alta em todas as categorias de produtos e não apenas em bens de consumo. Na comparação com setembro de 2005, as compras de matérias-primas e intermediários foram 36,7% maiores e as importações de combustíveis e lubrificantes elevaram-se em 35%, enquanto em bens de capital a variação foi de 20,4%.

No mês passado, as importações somaram US$ 8,12 bilhões e as exportações chegaram a R$ 12,55 bilhões, o que levou o saldo a US$ 4,43 bilhões. No acumulado em 2006, as exportações chegaram a R$ 100,71 bilhões e as importações alcançaram US$ 66,71 bilhões. O superávit acumulado é de US$ 34 bilhões.

No lado das exportações, as três categorias de produtos registraram valores recordes para o período janeiro-setembro. As vendas de manufaturados foram de US$ 54,5 bilhões, as de básicos chegaram a US$ 29,95 bilhões e os semimanufaturados alcançaram US$ 13,96 bilhões, com variações de 15,4%, 16,9% e 19,9% respectivamente.

Ontem, o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, anunciou que a meta de exportações foi revisada novamente para cima. Ela era de US$ 132 bilhões no começo do ano, foi a US$ 134 bilhões e agora subiu para US$ 135 bilhões.

Armando Meziat, secretário de comércio exterior do Mdic, explicou que a mudança foi baseada no desempenho dinâmico de algumas exportações, principalmente soja em grão, carne bovina in natura, açúcar e álcool, café, couros, papel e celulose, suco de laranja, petróleo e derivados, automóveis, motores, autopeças e outras. Com exportações de US$ 135 bilhões em 2006, o governo espera saldo comercial de US$ 44 bilhões.

Meziat informou ainda que as quedas nas quantidades exportadas que vinham sendo acompanhadas em abril (-3,3%) , maio (-4,2%) e junho (-0,2%), foram revertidas. Em julho e agosto, o volume das vendas externas subiu 9,1% e 6,4% respectivamente.

A perspectiva de desaceleração da economia americana não preocupa Meziat. Para ele, uma suposta queda nos preços das commodities pode ser compensada com o grande crescimento na quantidade exportada dessa categoria de produto entre 2002 e 2005.

O Ministério do Desenvolvimento também informou que foram abertas, na sexta-feira, investigações antidumping contra as importações chinesas de árvores de Natal e bolas para enfeite.

Na semana retrasada, já tinham sido abertas investigações para outros quatro produtos chineses: óculos de sol, armações para lentes, alto-falantes e escovas. Meziat disse que esses processos duram 60 dias, em média, e procuram investigar se há dumping, se ocorreu dano ao fabricante nacional e se há relação entre dumping e dano. Provada essa relação, é imposta uma sobretaxa às importações desleais.