Título: UE quer acelerar acordo com o Mercosul
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 03/10/2006, Brasil, p. A3

A União Européia (UE) quer concluir "o mais rapidamente possível" a negociação do acordo de livre comércio com o Mercosul. É o que afirmam assessores europeus na véspera de o comissário Peter Mandelson detalhar uma estratégia comercial com maior ênfase em acordos bilaterais. O anúncio da nova estratégia está previsto para esta quarta-feira.

A negociação Mercosul-UE será retomada nos dias 6 e 7 de novembro no Rio de Janeiro. "Se houver vontade política, podemos concluí-la em menos de dois meses", estima o diretor do Departamento de Negociações Internacionais do Itamaraty, Regis Arslanian.

Embora negociadores não falem em prazo, fontes que acompanham as discussões acreditam que Bruxelas gostaria de concluir um acordo até o primeiro semestre de 2007, para se dedicar a novas negociações com países da Ásia, da América Central e Pacto Andino.

Antes, a UE insistia que primeiro faria concessões agrícolas na Rodada Doha, na Organização Mundial do Comércio (OMC), e o que sobrasse daria no bilateral para o Mercosul. Agora, pode acenar no sentido inverso: faz o acordo bilateral, esperando que o bloco do Cone Sul cobre menos na negociação na OMC. Essa posição, porém, pode colocar o Brasil, líder do G-20, numa situação desconfortável no grupo.

Na recente reunião do G-20, no Rio, Mandelson reiterou a vontade de fazer "rapidamente" o acordo bilateral. A retomada da discussão foi adiada duas vezes este mês pois a UE quis se preparar melhor e fazer progressos no encontro do Rio.

Embora Mandelson insista que não está em questão uma "recuada" européia na negociação na OMC, sua nova estratégia reflete o sentimento de que Doha pode demorar a ser retomada. Daí o interesse de agora focalizar a promoção de acordos de livre comércio na Ásia e na América Latina.

Sua proposta deve receber amplo apoio dos 25 países membros, inclusive da França, porque há um sentimento de que a UE está ficando atrás dos EUA na obtenção de acordos preferenciais de comércio com economias emergentes. Os EUA fecharam acordos pequenos com uma série de países, como Peru, Colômbia, Omã e Qatar. E agora aceleraram, preparando acordos com Coréia do Sul e Malásia.

A UE começa a reagir na semana que vem, num encontro na Finlândia, quando examinará com a Índia a abertura de acordo bilateral. Os indianos não escondem o pouco apreço pelos atrasos do Mercosul-UE e prometem fazer rapidamente um acordo. Primeiro, não há problema agrícola. E segundo, seus produtos têxteis já são beneficiados no mercado comunitário.

Para analistas, a nova estratégia de Mandelson é uma vitória para a comunidade de negócios, embora não seja completa. O comissário queria originalmente tornar mais difícil a aplicação de defesa antidumping contra importações baratas. No entanto, desde indústrias de móveis até químicas, afetadas pela concorrência externa, insistem em usar essa defesa tal como ela pode ser aplicada hoje, ou seja, com facilidade.