Título: Preço do álcool sobe 6,1%
Autor: Capiroli, Gabriel
Fonte: Correio Braziliense, 21/10/2010, Economia, p. 16

Analistas afirmam que variação é natural nesta época do ano, quando a colheita da cana-de-açúcar já está no fim

O consumidor está sentindo no bolso uma diferença considerável na hora de abastecer seu carro com etanol. Em plena safra, o preço do álcool na bomba já subiu 6,1% nas últimas quatro semanas, conforme dados da média nacional divulgados pela Agência Nacional do Petróleo (ANP). No mesmo período, a gasolina teve aumento médio de 0,75% em todo o país.

Em algumas regiões, o motorista está pagando pelo combustível derivado da cana-de-açúcar quase 9% a mais do que há um mês. É o que ocorreu no Sudeste, onde, em média, o preço do etanol evoluiu 8,85% nos postos, graças ao salto verificado em São Paulo (10,32%). Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo acabaram puxando a média para baixo, embora também tenham registrado aumentos (veja quadro). Na região Sul, a disparada foi de 8,09%, com incrementos mais parecidos no Rio Grande do Sul, no Paraná e em Santa Catarina, todos acima dos 7%.

Grande parte desse comportamento, de acordo com o analista da AgraFNP Consultoria e Informações em Agronegócios Bruno Bosz, se deve ao ciclo do produto. ¿Estamos no fim da colheita e é natural o aumento dos preços nesta época do ano¿, explicou. Mas há fatores secundários que também contribuem para o comportamento pouco favorável ao consumidor. Bosz lembrou que o mercado de açúcar continua aquecido e uma parcela da produção de cana está sendo direcionada para a fabricação do produto. ¿Não é uma parcela grande, coisa de 5%, mas já faz uma diferença.¿

Outro ponto é o aumento dos estoques. ¿Há dois anos as usinas estão melhorando suas margens com a venda de açúcar e agora estão podendo guardar o álcool para vender ao longo da entressafra¿, avaliou. Dados do Ministério da Agricultura mostram que os volumes estocados, no ano passado, oscilavam entre 4,5 bilhões e 5 bilhões de litros nessa época. Neste ano, as reservas estão em 9 bilhões de litros.

Na visão do representante da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Única) em Ribeirão Preto, Sérgio Prado, a partir de agora os preços tendem a ficar mais estáveis na bomba. ¿Não vamos mais ver grandes oscilações, nem para cima nem para baixo¿, disse ele, confirmando o aumento dos estoques do produto. Para ele, com o aumento do número de carros flex no mercado, o preço dos combustíveis será regulado pela mera troca de uso do álcool por gasolina e vice-versa.

Produção O valor da produção agrícola nos municípios brasileiros caiu em quase R$ 8 bilhões no ano passado em comparação a 2008, constatou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Com R$ 140,8 bilhões de faturamento, as perdas mais intensas do setor ocorreram na Região Sul, em virtude de problemas climáticos nas colheitas do trigo (- 16,1%), do milho (- 13,9%) e da soja (-4,2%). Já a área plantada total aumentou 0,3% e chegou a 65,7 milhões de hectares.

(Colaborou Gustavo Henrique Braga)

PESO MENOR NA GASOLINA

Os motoristas do Centro-Oeste não estão sofrendo tanto quanto os das regiões Sul e Sudeste com a alta do etanol, mas, ainda assim, têm muito do que reclamar. Afinal, embora o derivado de cana-de-açúcar tenha subido menos da metade do que nessas outras duas áreas do Brasil ¿ na média, o aumento foi de 3,73% ¿, a gasolina acabou sendo reajustada também. Enquanto na média nacional o preço da gasolina evoluiu 0,75%, no Centro-Oeste ele apresentou elevação de 1,71%, mais que o dobro do registrado no restante do país.

De acordo com a Agência Nacional do Petróleo (ANP), Goiás lidera a carestia, tanto no álcool quanto na gasolina. Nesse estado, o etanol teve alta de 14,55% em apenas quatro semanas ¿ de meados de setembro a meados de outubro. Já o derivado de petróleo subiu 6,97% em igual período. Um pouco mais de sorte tiveram os moradores do Distrito Federal, onde, pelas informações da ANP, o custo do álcool para o consumidor caiu, passando de R$ 1,872 para R$ 1,871 o litro. A gasolina, porém, se manteve estável, em R$ 2,663 o litro.

Mas, de 16 de outubro para cá, o preço dos combustíveis no DF já mudaram. Em média, o álcool está custando na bomba R$ 2,05 o litro. Já a gasolina não sai por menos de R$ 2,75 para o consumidor da capital. (LV)