Título: Bradespar pode vender ações da Vale
Autor: Durão, Vera
Fonte: Valor Econômico, 15/01/2007, Empresas, p. B1

A Bradespar, que integra o bloco de controle da Companhia Vale do Rio Doce, estuda vender pelo menos metade das ações que possui da mineradora ainda neste ano. O potencial comprador é a japonesa Mitsui, que hoje já integra o bloco de controle da Vale. A outra metade dos papéis detidos pela Bradespar seriam repassados para a Bradesco Seguros.

A Bradespar detém 21% do capital votante da Valepar, a controladora da Vale. Isso equivale a cerca de 6% do capital total da mineradora. Se a operação for adiante, levará os japoneses a expandir sua fatia no controle da Valepar de 18% para cerca de 28%, o que lhes daria direito de veto sobre as decisões estratégicas da mineradora brasileira.

O direito de veto é exclusivo dos acionistas da Valepar que têm participação de no mínimo 25% no bloco de controle. Atualmente, apenas a Litel, veículo de participação dos fundos de pensão liderados pela Previ, possui dois direitos de veto na Valepar, onde detém 49% de capital votante e 52,98% de capital total.

O plano de venda das ações da Vale integra um contrato mais amplo que o Bradesco está fechando com o banco de investimentos Merrill Lynch para avaliar uma estratégia que poderá culminar com a dissolução da Bradespar.

Além das ações da Vale, a empresa de participações do Bradesco detém sob seu guarda-chuva papéis da CPFL Energia. A idéia da reestruturação da empresa, ainda em discussão entre os controladores da holding e do banco mandatado, é fazer nos próximos seis meses uma oferta pública secundária dos papéis da elétrica paulista. Isso tornou-se possível desde que, em agosto, a Bradespar fechou acordo com Camargo Corrêa e Votorantim para sair do bloco de controle da CPFL, tornando suas ações livres para venda.

Criada em 2000, para abrigar participações não financeiras do grupo Bradesco, a Bradespar nos últimos dois anos vem desinvestindo seu portfólio, que já incluiu Companhia Siderúrgica Nacional, Scopus e Net.

O diretor da Bradespar, Renato Gomes, afirmou não ter informação sobre o processo de dissolução da Bradespar. "Não há qualquer perspectiva de acabar a Bradespar, a diretriz do grupo de controle da empresa é de longo prazo, porque não se tem interesse de vender hoje as ações da Vale."

Segundo ele, o fato da Bradespar ficar só com papéis da Vale, depois de vender as ações da CPFL, não parece trazer prejuízo ao acionista por conta da liquidez das ações da mineradora (cujos preços estão hoje em patamar bem alto, após a aquisição da Inco). O papel da Bradespar, diz, se tornará um papel de arbitragem em relação à Vale, algo comum no mercado.

Sobre a possibilidade de ser feita uma oferta aos minoritários dentro de uma estratégia que pode contemplar o fechamento de capital da Bradespar, Gomes informou nunca ter ouvido que esse tipo de operação esteja dentre as prioridades dos controladores da Bradespar. "O valor de mercado da Bradespar está na casa dos US$ 4 bilhões. Os controladores da Bradespar só detêm 25% do capital total. E terão que recomprar 75% das ações, que correspondem a US$ 3 bilhões. Acho isto impensável", disse o executivo. No entanto, se a Bradespar vender sua participação na Vale, esse valor de recompra tende a cair consideravelmente.

Além da recompra de ações, outras alternativas para os minoritários podem ser estudadas pelo banco mandatado, entre elas, a troca de ações da holding por ações do Bradesco. Isso, sem considerar o caixa que a Bradespar fará com a venda de Vale e CPFL. Na conta de analistas, a holding poderá faturar mais de R$ 10 bilhões, ou US$ 5 bilhões, com o negócio, o que revela que esses dois ativos valem mais que a própria empresa.

Mas não há nenhuma orientação do conselho sobre o que fazer com os recursos que serão obtidos pela Bradespar com a venda das ações da CPFL no mercado, informou Renato Gomes. A oferta poderá render R$ 1,6 bilhão, ou quase US$ 800 milhões, por 43 milhões de ações da empresa elétrica, no cálculo de analistas. "O que podemos fazer com esse dinheiro é usá-lo para distribuir dividendos, recomprar ações da Bradespar no mercado ou mesmo comprar mais ações da Valepar", disse o executivo.

Nestes quase sete anos de existência, a empresa chegou a dar um retorno médio de 32% ao ano para seus acionistas. Em dezembro, a Bradespar atingiu o seu maior valor histórico em bolsa, depois de subir 78% no ano. O valor de mercado dela hoje é de R$ 8,9 bilhões.