Título: Crescimento do Peru atrai pequenas firmas de serviços
Autor: Pedroso , Rodrigo
Fonte: Valor Econômico, 26/07/2012, Brasil, p. A5

Buscando pegar carona recente no crescimento peruano - que registrou média anual de 7,1% de aumento no Produto Interno Bruto (PIB) nos últimos seis anos -, empresas de setores não tradicionais da economia brasileira, como arquitetura e software, planejam incrementar o faturamento com a realização de parcerias tanto para entrar no mercado do país andino quanto para trabalhar em conjunto com empresas peruanas que estão ingressando no Brasil.

Na segunda edição da Peru Service Summit 2012, feira de serviços realizada em Lima na semana passada reunindo latino-americanos, americanos e europeus, o Brasil foi o país com maior presença, tanto no número de empresas quanto no volume de negócios. Das 61 companhias estrangeiras que participaram das rodadas de negócios, dez foram brasileiras. Ano passado, participaram 41 empresas, sendo seis do Brasil.

Com escritório a ser inaugurado na capital peruana no mês que vem, a redistribuidora de softwares e hardwares de segurança da informação CLM identificou cinco clientes em potencial após os encontros realizados entre quinta e sexta-feira. A empresa, sediada em São Paulo, compra os programas de fabricantes europeus e abre mercados na América Latina, fazendo ajustes para os produtos se adaptarem à realidade local. "Fazemos a logística e arcamos com o financiamento e os riscos dos projetos", afirma Margarita Barrero, representante da empresa no Peru.

A entrada no mercado andino faz parte da estratégia de expansão da empresa, que atua no Brasil desde 1994. Ano passado, um escritório foi aberto na Colômbia, ajudando no faturamento de US$ 25 milhões registrado no período. O montante, contudo, foi o mesmo de 2010, explica Margarita. "O governo brasileiro, responsável por 30% das nossas vendas, não comprou nada ano passado. Até por isso não queremos atuar apenas no Brasil. Para este ano prevemos faturamento 20% maior", diz ela.

Na primeira edição da feira peruana de serviços, ano passado, as empresas brasileiras fecharam US$ 15,5 milhões em negócios com peruanos, mais da metade dos US$ 30 milhões que o evento gerou. O Chile, segundo país com maior volume de negócios, foi responsável por US$ 4,1 milhões. Os dados do volume total deste ano ainda não estão disponíveis.

A presença brasileira anima o ministro de Comércio Exterior e Turismo peruano, José Luis Martinot. Assim como no Brasil, a balança de serviços do país é deficitária. Nono passado, o saldo negativo foi de US$ 2,1 bilhões, segundo dados do Banco Central andino. Parcerias entre empresas dos dois países possibilitam a abertura do mercado brasileiro, segundo ele. "Apenas 10% das nossas exportações são de serviços. Temos um grande potencial e podemos aprender muito com o Brasil. O trabalho acontece de forma complementar, com um fornecendo aquilo que o outro precisa", diz ele.

A NeoGrid, que desenvolve softwares usados em cadeias de suprimento, começa a colher os frutos da vontade de aproximação comercial entre os dois países. Presente na feira no ano passado, a empresa está terminando o projeto-piloto da nota fiscal eletrônica peruana. Com ajuda de técnicos da Superintendência Nacional de Registros Públicos do Peru (Sunat), a nota eletrônica deve ir ao mercado no início de 2013, digitalizando os registros de compras e vendas das empresas.

Depois de conseguir a homologação para tocar o projeto no Peru, a NeoGrid buscou parceiros em potencial na feira para desenvolver outros programas. Com cerca de 500 funcionários no Brasil e atuando em 36 países, ela ajudou a criar a nota fiscal eletrônica brasileira, que começou a ser implantada em 2006. "No início, o governo fez por setores, como o de combustíveis. Aqui ainda não está definido, mas deve iniciar pelas grandes empresas, que são cerca de mil", diz Gustavo Cordeiro, gerente comercial para a América Latina, sem revelar qual a previsão de faturamento com o projeto.

A estimativa da PromPerú, empresa governamental para fomentar o comércio e a marca do país, é que a feira deste ano tenha gerado um volume de negócios 50% maior do que no ano passado, principalmente por causa de brasileiros como Heloísa Dabus, arquiteta e dona da paulistana Dabus Arquitetura. Ela conta que se inscreveu por indicação de Gil Carvalho, dono de um escritório de arquitetura com trabalhos para a Odebrecht e a Camargo Corrêa no Peru. Na base da indicação, o número de empresas brasileiras passou de seis em 2011 para dez este ano - seis de software, três de arquitetura e uma de produtos editoriais.

No caso da Dabus, o foco é tocar o projeto e a instalação de peruanos no Brasil. A parceria com estrangeiros no negócio começou há dois anos e hoje é parte representativa no faturamento. Atualmente, a empresa da arquiteta toca 24 projetos, sendo sete deles estrangeiros. "Houve um aumento substancial, principalmente no ramo de franquias gastronômicas", diz. Em um dos dias da feira, Heloísa fez 12 reuniões com empresários peruanos que planejam entrar no Brasil. "Um completa o outro. Um projeto costuma variar entre R$ 40 mil e R$ 120 mil."

Se Heloísa chegou aos Andes procurando oferecer serviços à expansão da gastronomia peruana - reconhecida internacionalmente - seu amigo Gil Carvalho, dono de empresa homônima, passou pela cordilheira no vácuo da instalação das grandes construtoras brasileiras no país, que estão investindo bilhões de dólares em infraestrutura, como o Gasoduto Andino do Sul, tocado pela Odebrecht e com previsão de custo de US$ 4 bilhões. Ele conta que visitou o Peru pela primeira vez há três anos, para conhecer o mercado. Hoje, além de fazer projetos arquitetônicos comerciais e residenciais, ele inicia atuação na capital peruana com uma incorporadora. Lima vive um boom imobiliário e mostra-se um mercado atrativo para arquitetos. Em 2012, sua empresa deve ter um faturamento total 25% maior. "Começamos com parcerias e nisso você também amplia seu conhecimento do mercado, trazendo coisas novas para o Brasil em um segundo momento. O Peru faz fronteira com a gente e nunca olhamos direito o mercado deles", afirma.

O discurso de que a aproximação é benéfica aos dois países também é encontrado no ministro Martinot. "Sempre vimos os Estados Unidos como o mercado final e isso está mudando. Há alguns anos começamos a perceber a importância do comércio intrarregional e o Brasil, inteligentemente, está ajudando a promover relações de trocas mais fortes na região."

O repórter viajou a convite da Peru Service Summit