Título: Temporada de reavaliar alianças
Autor: Taffner, Ricardo
Fonte: Correio Braziliense, 21/10/2010, Cidades, p. 33

A pouco mais de uma semana da escolha do novo governador do DF, lideranças políticas estudam mudanças de última hora para negociar com o futuro eleito. Há também quem se mantenha em cima do muro à espera do resultado das urnas A 10 dias das eleições que definirão como serão os próximos quatro anos de governo no Distrito Federal, tem muito cacique indeciso sobre o que fazer. Com calculadora e relógio nas mãos, os líderes políticos observam as tendências das ruas para decidir se ainda dá tempo para mudar de lado, ou para descer do muro, a fim de fazer alianças de última hora que possam render um bom quinhão no parcelamento de espaço na próxima administração.

Com excesso de interesses em jogo, as coligações conversam com pretensos apoiadores a fim de aumentar o número de figuras no álbum político de cada candidato. As indefinições estão tumultuando as relações internas dos partidos, que têm se reunido às vésperas do segundo turno para definir as posições, independentemente da forma como a legenda se comportou nos primeiros três meses de campanha.

É o caso do PP, presidido pelo deputado distrital reeleito Benedito Domingos. Apesar de estar formalmente coligado com a chapa Esperança Renovada, de Weslian Roriz (PSC), o Partido Progressista está reavaliando a postura. Por meio de sua assessoria de imprensa, Domingos disse que a decisão será tomada até amanhã pela Executiva da legenda. Enquanto isso, não há apoio oficial a nenhum dos adversários. O partido pretende ouvir os dois lados antes de bater o martelo.

Quem tenta manter a posição na disputa, mesmo com forças reduzidas, é o Democratas. Na terça-feira, a legenda realizou uma reunião com diversos membros para reafirmar o apoio à Weslian. ¿A orientação do partido é esta: o DEM está firme e forte na coligação e não poderia ser diferente¿, disse o presidente regional da sigla, senador Adelmir Santana. Entretanto, os dois únicos políticos eleitos pelo partido em 3 de outubro preferiram manter a neutralidade. Os distritais Eliana Pedrosa e Raad Massouh afirmaram ter feito campanhas independentes no primeiro turno e que não vão declarar apoio a nenhum dos lados nesta reta final.

No PSDB, os rumores da existência de um grupo de dissidentes causam conflitos entre os membros. No início da corrida eleitoral, o tucano Salviano Guimarães entregou uma carta de licença à Executiva para poder apoiar Agnelo. Em 18 de setembro, foi a vez do ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Maurício Corrêa pedir a desfiliação para se aliar à candidatura petista. Corrêa foi candidato a vice-governador na chapa rorizista em 2006 e ficou descontente com a posição do partido de não lançar um candidato da legenda na briga pelo Buriti.

Com apenas um representante eleito nas eleições deste ano, o PSDB imerge em uma crise. Para Salviano, que foi o primeiro presidente da Câmara Legislativa, o resultado ¿desastroso¿ é reflexo das escolhas erradas dos dirigentes locais. Agora, segundo ele, outros correligionários estão produzindo um manifesto contra os últimos posicionamentos da Executiva regional. ¿Defendo uma intervenção nacional no partido, que precisa fazer uma reconstrução com novas bases¿, diz.

Segundo o presidente do PSDB-DF, Márcio Machado, essa dissidência não passa de especulação. ¿Não há racha. A maioria decidiu pelo caminho da coligação e os que eram contrários acabaram tendo de aceitar¿, disse Machado. O futuro de Salviano, entretanto, está nas mãos do Conselho de Ética do partido. Ele responde a processo interno por apoiar o adversário da candidata da chapa rorizista. ¿Qualquer manifestação no mesmo sentido terá o mesmo encaminhamento¿, avisa o presidente.

Pelo sim, pelo não, o deputado Raimundo Ribeiro (PSDB) também optou pela independência e decidiu permanecer neutro. Ele briga na Justiça por uma cadeira na próxima legislatura da Câmara Legislativa com o deputado Benício Tavares (PMDB), que conseguiu reverter a impugnação da candidatura no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Ribeiro tenta provar que o peemedebista devia ter sido enquadrado na Lei da Ficha Limpa devido a uma condenação por apropriação indébita. Por sua vez, o distrital eleito Washington Mesquita (PSDB) permanece fiel a Weslian.

Pragmatismo Na quarta-feira, apesar de fazer parte da coligação de Agnelo, o distrital Cristiano Araújo (PTB) promoveu um ato público de apoio ao petista. Segundo o deputado, a declaração não ocorreu antes porque o próprio registro havia sido impugnado pela Justiça Eleitoral. Com a pendência resolvida dois dias antes do pleito e a reeleição garantida, Cristiano contrariou a mãe, Lurdinha Araújo ¿ que desistiu de concorrer a uma vaga na Câmara dos Deputados para se aliar à campanha de Roriz.

Segundo Paulo Nascimento, professor de ciência política da Universidade de Brasília (UnB), a movimentação política nas vésperas das eleições é o resultado de uma cultura ¿apartidária¿ dos brasileiros e do pragmatismo político. ¿Não há um acerto programático prévio e as alianças vão sendo definidas conforme saem as pesquisas eleitorais. Todo mundo corre para o lado que vai ganhar¿, avalia o cientista político.

Geleia geral A partir de janeiro, 17 partidos políticos do DF terão representação direta em um dos Três Poderes. Cada legenda ocupará pelo menos uma vaga na Câmara Legislativa. Para o cientista político Paulo Nascimento, o próximo governador terá muita dificuldade para formar uma base de sustentação. Segundo o especialista, as negociações feitas agora servem para construir, ¿a qualquer custo¿, uma aliança a fim de eleger o candidato da chapa, mas isso não significa que os partidos e os parlamentares seguirão ao lado do vencedor nos próximos quatro anos. ¿Ele vai ter de distribuir muitos cargos para manter uma base¿, prevê Nascimento.

ACERTOS PRÉ E PÓS-ELEIÇÃO

A chapa formada por PSL e PTN pregou por quase todo o primeiro turno a aversão às candidaturas de Joaquim Roriz (PSC) e de Agnelo Queiroz (PT). ¿Chega de vermelho e de azul também¿, dizia o jingle da campanha de Newton Lins (PSL) na corrida ao Buriti. Entretanto, as duas legendas racharam e cada uma fez a escolha por um dos lados. Lins declarou apoio, a poucos dias do fim do primeiro turno, à candidatura petista, enquanto o PSL embarcou, quatro dias após a eleição, na coligação rorizista.

O Partido Verde também decidiu fazer uma opção nesta etapa das eleições. A legenda de Marina Silva resolveu ficar ao lado de Agnelo na corrida local. A ex-ministra do Meio Ambiente foi a presidenciável mais votada no Distrito Federal, com 41,96% dos votos válidos. Eduardo Brandão, candidato derrotado ao GDF com 5,64%, trabalha agora para levar esse eleitorado para o lado rubro da disputa.

No meio do caminho ficou Toninho do PSol. Em terceiro lugar, com significativos 14,25%, o socialista não se rendeu a nenhum dos dois grupos e decidiu pela neutralidade no segundo turno. Toninho disse que votará nulo no dia 31, mas o PSol liberou os membros do partido e os eleitores para tomarem as próprias decisões. (RT)