Título: Merrill Lynch triplica capital e quer investir no
Autor: Lucchesi, Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 15/01/2007, Finanças, p. C10

Depois de triplicar seu capital no país em 2006, para R$ 483,42 milhões, e aumentar em 30% seu pessoal, para 240 pessoas, a Merrill Lynch do Brasil quer continuar a crescer. Prepara-se agora para investir capital próprio no setor imobiliário comercial e residencial. Planeja comprar participações proprietárias. "O Brasil tem várias oportunidades, pois o financiamento imobiliário de longo prazo ainda é incipiente", diz Richard Rainer, presidente, em entrevista ao Valor.

Segundo ele, essas oportunidades tendem a se ampliar neste ano graças à queda nos juros básicos. "Os investidores terão de buscar prazos mais longos para a obtenção de retornos atraentes e o alongamento de prazos é bom para o setor imobiliário", afirma.

Hoje, a Merrill Lynch controla a catarinense Cremer, fabricante e distribuidora de produtos médico-hospitalares. Em 2004, o banco investiu R$ 102 milhões e comprou 81% do capital da companhia. Com o aporte, a Cremer conseguiu equacionar suas dívidas e se reestruturou.

O banco já participou do capital de outras empresas no país - vendeu em 1999 por um total de R$ 103,9 milhões, para investidores estratégicos, a participação de 17% na Procomp, especializada no fornecimento de urnas eletrônicas às eleições. Também se desfez de participação na Prosegur, de segurança privada. "Nós investimos nos mais diferentes segmentos e estamos sempre observando áreas novas", diz.

Em 2006, as inovações já não foram poucas. A Merrill Lynch passou até a participar do mercado de empréstimos. Comprou R$ 200 milhões em dívida em atraso ("distressed") no setor de automóveis de um banco que Rainer preferiu não revelar. Manteve os recursos em carteira. Só não fez mais operações desse tipo por falta de oferta.

O banco também realizou empréstimos ao frigorífico Marfrig para a compra de outras empresas. Foram os chamados empréstimos-ponte, que depois foram rolados por meio da emissão de um bônus de US$ 375 milhões do frigorífico liderada pela Merrill Lynch. Ainda no mercado externo, o banco liderou a emissão de eurobônus para a Cemat/Celpa, do Grupo Rede, de US$ 100 milhões, da Cataguazes-Leopoldina, de US$ 250 milhões, e do governo federal em reais, no equivalente a US$ 300 milhões.

A securitização à brasileira foi outra novidade no cardápio do banco americano - no final do ano passado, a Merrill Lynch lançou um primeiro Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC), de R$ 150 milhões, de carteira de crédito consignado do BGN. O FIDC foi vendido para investidores locais. Neste ano, o banco pretende manter a mesma rota.

Até no mercado de câmbio à vista o banco vai agora atuar. "O BC acaba de aprovar nossa carteira de câmbio", conta Rainer. A idéia é atuar com investidores internacionais que queiram investir no país, na bolsa, títulos de renda fixa ou estruturas mais complexas. Hoje, segundo Rainer, o banco tem realizado operações de proteção financeira (hedge) para empresas que captam em dólar no exterior e querem converter o indexador da dívida para reais. "Conseguimos uma estrutura que reduz custos do hedge", diz. Ele não quis, no entanto, revelar o pulo do gato.

Neste ano, a tesouraria vai continuar a fornecer os tradicionais derivativos de juros e câmbio. Mas, não pretende parar por aí. Vai ampliar as opções de produtos de hedge oferecidos aos clientes, com destaque para commodities, inclusive energia e metais.

No mercado de renda variável, o banco liderou operações de emissão de ações para a incorporadora Gafisa e para a Lupatech, fabricante de bombas e válvulas para a indústria. E ampliou de forma determinante seu pessoal: o aumento da equipe de vendas de ações foi de 80% e de pesquisa, de 120%. "Nós analisamos mais de 100 empresas na América Latina, mais da metade dessas companhias no Brasil", diz. A corretora da Merrill Lynch figura entre as dez maiores do mercado. Rainer diz estar "animado" com as perspectivas do mercado acionário para 2007, que, acredita, tem tudo para ser melhor do que em 2006. "Temos várias operações já em andamento", diz.

Depois do recorde de 2006, a área de fusões e aquisições promete crescer mais neste ano, acredita. Não é à tona que a Merrill Lynch dobrou sua equipe de banco de investimento. Em 2006, o banco assessorou o grupo Brasif na venda da operadora de duty-free Dufry, a Vale na negociação como os minoritários para a incorporação das ações da Caemi e o Itaú na compra de ativos do BankBoston na América Latina.

Para crescer ativos no país, a Merrill Lynch tem um plano de ampliação do capital para 2007 e 2008 que Rainer não quis detalhar. "Estamos otimistas com o Brasil e vamos continuar crescendo, provavelmente não no mesmo ritmo do que no ano passado", conta. "O investidor externo já sabe segregar os riscos de cada país da América Latina", diz.