Título: Caixa reduz margem para liderar crédito imobiliário da classe média
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 15/01/2007, Finanças, p. C2

A Caixa Econômica Federal, que resolveu emprestar neste ano R$ 3 bilhões na sua linha de financiamento imobiliário à classe média, está comprimindo suas margens financeiras para manter a liderança em um mercado cada vez mais disputado pelos bancos privados.

Os bancos normalmente fazem crédito imobiliário para classe média com recursos captados na caderneta de poupança, que têm custo financeiro mais baixo. A Caixa, porém, já aplica em habitação mais dinheiro da caderneta do que o exigido pela legislação em vigor. Por isso, suas novas operações para a classe média estão sendo bancadas com a emissão de letras de crédito imobiliário (LCI), que têm custo financeiro mais elevado.

A diferença de taxas entre uma forma de captação e outra é significativa. Na caderneta de poupança - voltada sobretudo para o pequeno poupador -, os bancos captam recursos pagando a taxa referencial (TR) mais 6% ao ano, o que representa um custo total de cerca de 8% ao ano. Nas LCIs, voltadas ao público de maior renda, a Caixa paga em média o equivalente a 86,5% do CDI, que representa uma taxa de juros de cerca de 11% ao ano.

Com as LCIs, a margem financeira do crédito imobiliário fica mais apertada, considerando que em alguns casos a Caixa faz empréstimos com juros prefixados inferiores a 12% ao ano.

O vice-presidente de finanças da Caixa, Fernando Nogueira da Costa, explica que a instituição tomou uma decisão estratégica no crédito imobiliário. "É um bom negócio porque representa a fidelização de clientes", disse. "O ganho para a Caixa não é só os juros cobrados nos empréstimos, mas todos os produtos financeiros que o cliente pode comprar enquanto mantiver relacionamento conosco."

Ele pondera que, caso se confirme o cenário de queda dos juros básicos previsto para os próximos anos, essas operações podem ficar ainda mais vantajosas. De um lado, a Caixa faz empréstimos com até 20 anos com juros prefixados por volta de 12% ao ano, taxa que tende a se mostrar elevada no longo prazo. De outro lado, as LCIs têm prazo mais curto - cerca de 15 meses - e juro flutuante atrelado ao CDI, que deve cair ao longo do tempo.

Captar por meio de LCIs em vez de caderneta de poupança não é propriamente de uma escolha para a Caixa. Se pudesse escolher, a instituição bancaria 100% do crédito imobiliário com recursos da caderneta. Mas os depósitos em caderneta estão crescendo com velocidade menor que o crédito imobiliário.

Em 2006, o banco se esforçou para aumentar sua captações em caderneta. O resultado obtido não é desprezível - houve aumento de R$ 2,5 bilhões nos saldos captados, que passaram para R$ 59,8 bilhões. Com esses números, a Caixa se saiu melhor do que os concorrentes, elevando a sua participação no mercado de 31,4% para 32,2%.

Mas o aumento nas captações em caderneta não é suficiente para fazer frente à demanda por financiamentos imobiliários para a classe média. Desde 1992, a Caixa estava fora desse mercado, e tomou decisão estratégica de voltar a ele em fins de 2005. Para o ano passado, orçou inicialmente R$ 1 bilhão em empréstimos. Diante da forte demanda, os números foram elevados duas vezes durante o ano, subindo para R$ 3 bilhões. Para 2007, foram orçados outros R$ 3 bilhões.

O resumo é que a Caixa, que historicamente já aplicava em habitação mais do que suas captações em caderneta exigem, mantém-se sobreaplicada. Por isso, tem que recorrer a LCIs. Hoje, o volume de LCIs emitidos já está em R$ 5,9 bilhões, e os cálculos indicam a necessidade de captar mais cerca de R$ 2,8 bilhões para satisfazer as necessidades previstas até meados de 2007 .

No curto prazo, o que a Caixa tem feito para ampliar um pouco sua margem é colocar as LCIs no varejo. Em fins de 2006, a Caixa fez um teste: ofereceu as LCIs para outros bancos, por meio de leilão. Bancos chegaram a exigir juros equivalentes a 92% do CDI. No varejo, os juros das LCIs caem para até 82,5% do CDI, nos papéis vendidos para investidores que aplicam a partir de R$ 50 mil.