Título: Disputa pode facilitar privatizações, avalia investidor
Autor: Borges, Robinson
Fonte: Valor Econômico, 03/10/2006, Especial, p. A18

A realização de um segundo turno para definir o novo presidente do Brasil pode levar a um crescimento econômico mais acelerado e talvez a mais privatizações do setor de energia no país. A avaliação é de Mark Mobius, considerado um guru dos mercados financeiros e que administra cerca de US$ 29 bilhões em ativos de mercados emergentes na Templeton Asset Management.

Mobius, de 70 anos, disse ontem à "Reuters" que a disputa entre Luiz Inácio Lula da Silva e Geraldo Alckmin não deve ser motivo de alarme para os investidores. "Não estamos entre uma rocha e um lugar duro, mas entre um local macio e outro lugar macio."

Para Mobius, a realização do o segundo turno e uma disputa acirrada podem enviar a Lula sinal de que ele tem de acelerar a expansão e o investimento, caso seja reeleito. "O crescimento econômico no Brasil não é definitivamente o que deveria ser. Algo tem de ser feito e nós certamente não ficaríamos infelizes se Alckmin vencesse", afirmou.

"Ele definitivamente é o tipo de candidato que vai seguir políticas semelhantes às do Lula e talvez puxar a coberta um pouco mais em termos de privatização", disse Mobius. "É claro que a privatização é um fator-chave. Por exemplo, a Eletrobrás pode facilmente ser privatizada e isso deverá acelerar o crescimento."

Uma vitória de Alckmin, na avaliação de Mobius, pode levar à redução dos impostos no país, porque o candidato prometeu impostos e juros menores para alavancar a economia, mas ele duvida que os juros no Brasil, --atualmente em 14,25%,-- possam cair muito mais, afirma a reportagem da "Reuters".

Já para a agência "Bloomberg", o resultado do primeiro turno das eleição presidencial no Brasil colocou os investidores "no melhor dos mundos": uma disputa no segundo turno entre "um presidente de esquerda que governa como um conservador na área fiscal e um pró-mercado ex-governador do Estado mais rico do país".

"Duvido que uma presidência Alckmin seria muito diferente de um segundo mandato de Lula", afirma Michael Shifter, analista do Interamerican Dialogue, instituto com sede em Washington. A reportagem cita também trecho de relatório da Goldman Sachs, que afirma que "uma administração Alckmin pode ter mais condições políticas do que o presidente Lula para levar adiante reformas estruturais ambiciosas". Christian Stracke, analista da CreditSights para mercados emergentes, acredita que "o cenário mais provável é uma vitória de Lula por pequena margem no segundo turno", o que levaria o presidente a iniciar o novo mandato já enfraquecido."

Para a "BBC News", o presidente Lula, que contava com a vitória no primeiro turno, "agora enfrenta uma segunda fase de campanha imprevisível contra um opositor que está em ascensão". A BBC lembra que adversários e aliados de Lula concordam que a denúncia da compra de um dossiê para tentar incriminar políticos rivais foi decisivo para o desfecho do primeiro turno. Segundo a BBC, a eleição poderá ser decidida pelos debates pela televisão, já que no Brasil "os apelos pessoais para os eleitores realmente contam."

O jornal "La Nacíón", de Buenos Aires, diz que "um país dividido" vai para o segundo turno da eleição presidencial, destacando a vitória de Lula no Norte de Nordeste e de Alckmin no Sul, Sudeste e Centro-Oeste, "regiões mais industrializadas e ricas".