Título: Policiais dizem que Cachoeira pagava mensalão
Autor: Magro , Maíra
Fonte: Valor Econômico, 25/07/2012, Política, p. A5

A Justiça Federal em Goiânia dará continuidade esta manhã aos depoimentos do processo penal da operação Monte Carlo, em que Carlinhos Cachoeira e outros sete réus são acusados de formação de quadrilha armada, corrupção, peculato e violação de sigilo funcional. O depoimento de Cachoeira e dos outros acusados estava previsto para hoje, mas poderá ser adiado, já que oito testemunhas ainda devem ser ouvidas antes.

Cachoeira e os outros réus estavam presentes ontem no primeiro dia de audiência. Mais magro e abatido, Cachoeira e os demais se sentaram na primeira fila do auditório da Justiça Federal. A previsão inicial era de que ontem fossem ouvidas 14 pessoas indicadas pela acusação e pela defesa, mas só houve tempo para duas testemunhas: os policiais federais Fábio Alvarez e Luiz Carlos Pimentel, que atuaram na Monte Carlo.

Em depoimentos que duraram mais de três horas cada um, eles relataram detalhes encontrados nas investigações, como o pagamento de uma espécie de "mensalão" pelo grupo de Cachoeira a policiais para que colaborassem com o esquema de três formas: passando informações sigilosas sobre operações para fechar casas de jogos, fechando pontos de jogos não autorizados ou garantindo a segurança das casas de integrantes do grupo.

"Havia um pagamento mensal a diversos policiais civis e militares, e quem efetuava geralmente era o Dadá [o sargento aposentado da Aeronáutica Idalberto Matias de Araújo, um dos réus no processo]", disse Fábio Alvarez. Outros pagamentos, disse, foram buscados no escritório de Lenine Araújo de Souza, acusado de ser o contador de Cachoeira, e na casa de Regina Sônia de Melo, ex-servidora da prefeitura de Luziânia (GO).

O policial enumerou episódios em que buscas foram frustradas por causa do vazamento de informações. Relatou uma ocasião em que o agente da PF Wilton Tapajós Macedo, assassinado na semana passada com dois tiros na cabeça em um cemitério em Brasília, foi abordado por policiais militares enquanto cumpria diligências da Monte Carlo. Segundo Alvarez, o agente acompanhava um encontro de supostos integrantes do grupo de Cachoeira, na casa de Regina, quando foi abordado por militares. "Ele teve que usar coberturas para garantir sua integridade e continuar o trabalho", disse Alvarez, que teria vivido situação semelhante em sua atuação no caso.

Em seguida o policial Luiz Carlos Pimentel, que atuou na operação como chefe substituto de inteligência, detalhou esquemas de contabilidade do grupo. De acordo com ele, a PF encontrou uma planilha na qual o pagamento de propina era identificado como "assistência social". Os beneficiários eram identificados por siglas em uma coluna específica.

Durante os dois depoimentos, a defesa de Cachoeira seguiu a estratégia de tentar colher dados para desqualificar as escutas telefônicas feitas pela PF na operação. "Ficou muito claro que houve um descontrole na colheita de provas de interceptação", disse a advogada de Cachoeira, Dora Cavalcanti. Ela disse que a defesa localizou ao todo 213 linhas acessadas durante a operação, que teriam sido descartadas depois. "Houve uma mega interceptação telefônica para basear uma denúncia pré-concebida", disse a advogada.