Título: Nas empresas nacionais o movimento é inverso
Autor: Giardino, Andrea
Fonte: Valor Econômico, 08/01/2007, Carreira, p. D6

Se por um lado, algumas multinacionais de TI trazem mão-de-obra de outros países para suprir a falta de talentos no Brasil, muitas empresas nacionais que fincaram bandeira fora do país, a despeito dessa escassez, precisam levar pessoas daqui para suas filiais. A Stefanini, consultoria especializada em tecnologia da informação, deu início ao processo de internacionalização dez anos atrás, abrindo a primeira subsidiária na Argentina. Hoje, está presente em 14 países - entre os quais México, Estados Unidos e Índia - e já enviou 60 pessoas para fora, o que representa 10% do total de funcionários.

De acordo com Marco Stefanini, presidente da empresa, o perfil desses profissionais é mais sênior, com fluência no inglês e qualificação técnica. A preferência é pelos que já atuam na consultoria. "Nossos profissionais se destacam não apenas pelo grande conhecimento técnico, mas também pela capacidade de resolver problemas", diz.

Nas filiais internacionais, a consultoria adota um modelo misto, com parte de mão-de-obra local e parte formada por brasileiros expatriados, além de equipes alocadas no Brasil que desenvolvem projetos para clientes em outros países. E ao contrário de muitas companhias, a Stefanini parece não ter dor de cabeça com a falta de profissionais qualificados. "Tanto que exportamos talentos", diz o presidente da Stefanini.

Na Totvs - holding que controla a Microsiga, a Logocenter e a RM Sistemas - dos 200 profissionais que atuam fora do país - México, Argentina e Chile - 21 são expatriados brasileiros, dos quais quatro têm nível executivo e o restante foi alocado para projetos técnicos. "Mandamos também gente com a missão de montar turmas e treinar os funcionários locais", explica Flávio Balestrin, diretor corporativo de relações humanas do grupo.

Segundo o executivo, esse tipo de prática visa suportar o crescimento acelerado das operações na América Latina. Além disso, a Totvs possui uma fábrica de software que atende o mercado de pequenas e médias empresas, com demanda de projetos em português e espanhol. "Investimos R$ 800 mil para que os funcionários tenham fluência nos dois idiomas", diz.

No entanto, Balestrin reconhece que a Totvs acaba ficando desfalcada com essa migração, já que há falta de mão-de-obra em TI. "É difícil achar pessoas formadas, com conhecimento em linguagem de programação e que dominem o inglês. Múltis com operações offshore, por exemplo, não conseguem montar call center pela falta de gente que fale o idioma", alerta. Para suprir esse "gap", a Totvs criou a universidade corporativa.

No caso da Módulo Security, especializada em segurança da informação, a ida de profissionais para fora é uma forma de ajudar no desenvolvimento de carreira no exterior. "Esta experiência traz amadurecimento e dá maior visibilidade ao profissional", afirma Karina Vidinha, gerente de RH da empresa. Hoje, há uma equipe de americanos no escritório de Nova Iorque que divide espaço com brasileiros. No total, a Módulo tem 10 funcionários do Brasil atuando no exterior e a permanência deles depende da duração dos projetos.

Presente na Argentina, México e Chile, a Asyst Sudamérica costuma exportar coordenadores e supervisores somente quando há projetos pontuais e específicos. "Na área de prestação de serviços, o profissional brasileiro se destaca", diz Oswaldo Brancaglione, diretor de processos da empresa. "Muitas vezes até trazemos os funcionários de fora para aprender a nossa metodologia com a gente". (A.G)