Título: China reage, mas Europa e EUA seguem sem força
Autor: Moreira , Assis
Fonte: Valor Econômico, 25/07/2012, Internacional, p. A9

A atividade econômica na China dá sinais de recuperação em julho, numa mostra de que recentes políticas de estímulo estão funcionando. Ao mesmo tempo, a zona do euro continua deslizando para a recessão e os EUA têm ligeiro declínio na atividade, conforme pesquisas divulgadas ontem.

O setor privado da Alemanha tem no começo do terceiro trimestre a maior contração em três anos, com a deterioração da atividade econômica se propagando para as maiores economias da zona do euro. Nesse cenário, a crise da dívida pode piorar e os temores de alguma forma de ruptura na zona do euro se intensificam.

Enquanto isso, o Índice dos Gerentes de Compras (PMI), índice antecedente da atividade, aponta recuperação no setor industrial da China, mesmo se não pode ser ainda descrito como forte.

A segunda maior economia do mundo tem melhoras em quatro de cinco subíndices - produção, novas encomendas, tempo de entrega dos produtos e estoques de matérias-primas -, enquanto o emprego caiu a seu mais baixo nível, refletindo um impacto retardado da desaceleração economica. "A economia chinesa continuará a melhorar nos próximos meses, mas evitar uma aterrissagem forçada não significa forte recuperação", observa Qinwei Wang, analista em Londres.

Para Wei Yao, economista do banco Société Générale, em Pequim, as autoridades chinesas vão precisar adotar mais medidas, como corte de 50 pontos-base nos compulsórios dos bancos em agosto, para estabilizar mais a economia.

Nos Estados Unidos, a leve queda no PMI industrial indica que no começo do terceiro trimestre o crescimento do PIB anualizado fica em 1,5%, comparado a 1,9% no trimestre anterior. Produção, emprego e novas encomendas caíram, mas menos do que o previsto por alguns economistas. Já as novas encomendas de exportação aumentaram.

No geral, a economia americana pode crescer mais lentamente no terceiro trimestre, mas não desliza para uma recessão, pelo menos não ainda, na avaliação de Paul Dales, economista da Capital Economics. E, se as chances de mais políticas de estímulo pelo Federal Reserve (Fed, o BC dos EUA) aumentaram, analistas ressalvam que novo afrouxamento monetário ("quantitative easing 3") não é algo seguro.

Por sua vez, a zona do euro continuará afetando todo mundo. Sua atividade globalmente continua mais fraca do que nos Estados Unidos. Um aprofundamento da recessão ameaça todos os 17 paises-membros. O PMI composto de julho aponta contração pelo sexto mês consecutivo, consistente com queda de 1% no PIB neste ano.

Além da Alemanha, a atividade global na França regrediu pelo quinto mês consecutivo, mas em ritmo menor graças ao setor de serviços. Outro indicador, do instituto francês Insee, registra queda no ambiente de negócios. Para analistas, a contração do PIB pode ser mais prolongada, ainda mais com as recentes medidas de austeridade anunciadas pelo governo socialista de François Hollande.

A atividade industrial na zona do euro caiu pelo quinto mês consecutivo. As cifras parecem agora consistentes com queda anual de 10% da produção industrial neste ano. O índice de serviços subiu ligeiramente, mas significa apenas que a contração foi menor do que antes.

A taxa de supressão de empregos registra a maior alta em dois anos e meio na Europa. Um número crescente de empresas reduz seus efetivos, principalmente no setor de serviços. O emprego recua mais na França que na Alemanha.

"As perspectivas econômicas se ensombrecem, as empresas da zona do euro suprimem empregos a um ritmo acelerado, os fornecedores de serviços mostram agora o mais alto nível de pessimismo desde 2009 e os fabricantes reduzem seus estoques de matérias-primas em vista de menos vendas nos próximos meses", resume Chris Williamson, economista-chefe da consultoria Markit, que elabora as pesquisas do PMI.

As empresas europeias estão diminuindo os preços, no menor nível em dois anos, para estimular as vendas.

Embora o Bundesbank, o BC alemão, espere crescimento moderado na maior economia europeia, o PMI da região sugere persistente fragilidade no terceiro trimestre. E isso, para certos analistas, pode ajudar a empurrar o Banco Central Europeu (BCE) a cortar a taxa de juro para 0,5% e dar novo choque de liquidez.