Título: Grécia caminha para nova reestruturação da dívida
Autor: Baker , Luke
Fonte: Valor Econômico, 25/07/2012, Finanças, p. C5

A Grécia não deverá conseguir pagar o que deve e uma reestruturação adicional da dívida será necessária, um custo que, segundo disseram ontem três autoridades da União Europeia (UE), vai recair sobre o Banco Central Europeu (BCE) e os governos da zona do euro.

As autoridades disseram que a Grécia, que já foi socorrida duas vezes, será considerada como longe do caminho certo por funcionários do Fundo Monetário Internacional (FMI) e da UE, que estão avaliando a situação do país.

Inspetores da Comissão Europeia, do BCE e do FMI - que formam a troica - estão em Atenas e concluirão sua análise completa sobre a sustentabilidade da dívida no mês que vem, mas fontes informaram que as conclusões já estão ficando claras.

Isso significa que os credores gregos do setor público - o BCE e governos da zona do euro - terão de reestruturar parte dos estimados € 200 bilhões em dívida do governo grego que eles possuem, se Atenas quiser voltar a percorrer um caminho sustentável.

Mas não há, a essa altura, disposição dos Estados-membros ou do BCE para adotar uma medida tão dramática. "A Grécia está muito fora do caminho", disse uma das autoridades à Reuters, sob condição de permanecer no anonimato por se tratar de uma questão sensível. "O resultado da análise de sustentabilidade da dívida será muito ruim."

Outra autoridade apontou para as estimativas de crescimento mais recentes feitas pelo governo grego, que mostram uma contração da economia de 7% neste ano, em vez da previsão anterior de 5%, o que significa que o peso da dívida está aumentando em relação ao PIB.

"Nada foi feito na Grécia nos últimos três ou quatro meses", disse a autoridade, referindo-se aos atrasos provocados pelas duas eleições realizadas desde maio. "A situação vai de mal a pior", acrescentou a fonte, um planejador econômico diretamente envolvido nas tentativas de se encontrar soluções para a crise.

Sob os termos do segundo acordo de ajuda financeira firmado com a UE e o FMI em fevereiro, a Grécia se comprometeu a cortar mais os gastos públicos e aumentar os impostos em troca de uma redução de € 100 bilhões em duas dívidas.

A reestruturação envolveu a aceitação, por detentores privados de bônus do governo grego, de perdas de até 70%, com o objetivo de reduzir a relação de endividamento de cerca de 160% do PIB para menos de 120% até 2020 - nível que o FMI classifica de sustentável no longo prazo.

Mas a Grécia está muito longe de atingir essa meta de 2020, disseram as autoridades. Uma delas estima que o erro poderá ser de até 10 pontos percentuais, equivalentes a cerca de € 30 bilhões.

Como resultado, o FMI poderá decidir abandonar o segundo programa de resgate, tendo já dito que novas metas não cumpridas não serão toleradas. Isso deixaria os Estados-membros da zona do euro e o BCE arcando sozinhos com os custos da ajuda.

Neste caso, a única maneira de manter a Grécia respirando e na zona do euro, seria o BCE e os Estados-membros do euro darem como perdidos parte dos títulos da dívida grega que possuem ou mudar os termos para dar a Atenas ainda mais tempo para o pagamento das dívidas a taxas de juros menores.

"Isso ainda não foi explorado politicamente porque ninguém quer lançar essa discussão", disse uma das autoridades. "A viabilidade política da realização de uma reestruturação do setor público está se tornando cada vez mais complicada."

Nenhuma discussão formal foi iniciada sobre o chamado envolvimento do setor público, mas duas possibilidades vêm sendo mencionadas: o BCE aceitaria uma perda sobre os estimados € 40 bilhões em bônus gregos que possui ou os Estados-membros melhorariam as condições de seus empréstimos para Atenas.

Mas as autoridades com quem a Reuters conversou listaram seis países do bloco que se opõem firmemente à concessão de um novo socorro à Grécia, não apenas por causa da insistência de Atenas em não cumprir as metas, mas também porque os custos em breve serão transferidos diretamente para os contribuintes.

"A dinâmica política está realmente indo contra a dinâmica econômica", disse uma fonte. "Os argumentos econômicos podem estar claros - precisamos reestruturar a dívida da Grécia se quisermos que ela seja sustentável -, mas politicamente não há disposição."

Isso devolve a discussão à permanência ou não da Grécia na zona do euro no longo prazo, após dois anos e meio de crise e duas tentativas de reorganização de sua economia com resgates de muitos bilhões de euros.