Título: Gratidão do técnico desempregado
Autor: Sassine, Vinícius
Fonte: Correio Braziliense, 31/10/2010, Política, p. 10

Há 10 anos, a casa de Antônio dos Santos Martins, 44 anos, é uma construção inacabada. A primeira etapa surgiu nos fundos do lote, quatro metros se estenderam até a frente e a sala. A cozinha, o banheiro, os dois quartos e um quintal ganharam forma numa área de 90 metros quadrados. A casa tem telhas de amianto, precisa ser pintada, faltam diversos retoques. Mas existe, está equipada. Antônio tem TV com tela plana de 40 polegadas, home theater, notebook, uma cozinha completa. Isso aqui é uma conquista muito grande. Estou construindo e fazendo as coisas.

Quando se casou, Antônio foi morar na casa dos sogros em Brazlândia. Há 15 anos chegou à expansão da Vila São José, bairro na periferia da pequena cidade. Foram cinco anos num barraco de madeira até começar a construir a casa própria. As obras prosseguem e contemplam uma perspectiva de trabalho. Técnico em eletrônica, Antônio está desempregado há quatro meses. Não parece preocupado, nem desestimulado com o governo. Em frente à sua casa, no mesmo lote, um ponto comercial está em fase final de construção. Surgirá ali uma loja de jeans.

O grande culpado por estar desempregado sou eu mesmo, me acomodei, não fiz curso nenhum. Tem emprego para tudo quanto é lado, diz o ex-funcionário de uma empresa que prestava serviços para o Superior Tribunal de Justiça. Antônio faz bicos, voltou a estudar e tem a garantia do emprego de volta se concluir um curso técnico exigido pela empresa. Concluiu o ensino médio antes de partir para o curso.

A vida de Antônio melhorou nos últimos anos e algumas diferenças sentidas por ele marcam essa melhora. No governo do Fernando Henrique Cardoso, cheguei a comprar arroz de segunda. Um pacote de cinco quilos custava R$ 12. E só comprava carro velho. Hoje, Antônio tem um Fiat Siena, ano 2005, financiado. Compra e paga o material de construção no cartão, geralmente em três parcelas. O brasileiro tem condição de comprar qualquer coisa.

Luiz Inácio Lula da Silva fez o melhor governo já visto, segundo o técnico em eletrônica. Primeiro, ele próprio ganhou poder de consumo. Depois, viu familiares melhorarem a vida. Um tio, na zona rural de Padre Bernardo, foi beneficiado pelo Luz para Todos. Lá tem antena parabólica e bomba dágua. Antes era lampião. Uma sobrinha está na universidade. O curso é pago pelo ProUni.

O voto em Dilma Rousseff (PT) passou a ser natural para ele. O carro e a casa estão adesivados. Uma pequena bandeira do PT foi afixada em cima do muro. Antônio diz não ser petista. Na década de 1990, votou em Fernando Henrique. Nos dois últimos pleitos, em Lula. Dilma já está com o governo montado, Serra não conseguiria governar. Essa administração não pode ser interrompida. Para Antônio, Dilma que recebeu seu voto no primeiro turno representa a continuidade de Lula, o presidente que chega hoje em qualquer parte do mundo e conversa com quem quiser.