Título: EUA trocam militares por espiões no conflito na Síria
Autor: Entous , Adam
Fonte: Valor Econômico, 24/07/2012, Internacional, p. A13

Os Estados Unidos vêm montando um esforço secreto, mas limitado, para acelerar a queda do presidente sírio, Bashar al Assad, sem o uso de força, acionando espiões e diplomatas numa rede estratégica para bloquear o envio de armas e petróleo pelo Irã e fazer chegar dados de inteligência aos aliados na frente de batalha.

A peça central do esforço neste ano se concentrou em convencer o Iraque a fechar seu espaço aéreo para os voos entre Irã e Síria que, segundo o serviço secreto americano, transportam armas para os seguidores de Assad, e não flores frescas, como relata a documentação desses voos. Os EUA também vêm tentando impedir navios, que seriam usados para o transporte de armas e combustível para a Síria, de atravessar o canal de Suez.

Os discretos esforços da agência de espionagem CIA, do Departamento de Estado, do Tesouro e do Exército sinalizam um papel mais amplo dos EUA na batalha contra Assad. Os esforços ganharam tração recentemente, ajudados pelo fortalecimento das relações com a oposição síria e pelo fato de que Assad tem dado indícios de que está desesperado por suprimentos.

Céticos dentro do governo de Barack Obama e do Congresso americano, porém, dizem que não há garantia de que a pressão gere resultados e que é tarde demais para assegurar que o esforço dê aos EUA alguma influência sobre o futuro da Síria pós-Assad. Muitos líderes da oposição síria reclamam que os EUA não têm feito o suficiente e dizem que os esforços de aliados regionais, como o Qatar, a Arábia Saudita e a Turquia - em alguns casos, para transportar armas - são mais significativos.

Autoridades americanas reconhecem as limitações que resultam da falta de disposição de Washington de se envolver diretamente no conflito. Embora alguns voos que transportavam armas para a Síria tenham sido detidos, elas dizem ser bastante difícil obter inteligência e que governos estrangeiros muitas vezes são relutantes em cooperar. Alguns carregamentos de armas e combustível para a Síria passaram sem ser detectados.

Líderes da oposição síria admitiram que contatos com o Departamento de Estado americano e a CIA foram reforçados nos últimos meses, principalmente no sul da Turquia. Mas os rebeldes dizem que os EUA poderiam ter pressionado para uma campanha mais coordenada para fechar as rotas aéreas e marítimas usadas para reabastecer as forças de Assad, incluindo o canal de Suez.

"Os americanos nos dizem que permitiram que os aliados regionais nos ajudassem, mas se eles pensam que isso é uma vitória [...] deveriam saber que é um apoio fraco e inadequado", disse Louay Mokdad, coordenador de logística para o Exército Livre da Síria, a força rebelde que está tentando derrubar Assad. Mokdad e dois comandantes rebeldes deram exemplos de pedidos levados aos americanos que, segundo eles, não foram atendidos, como imagens de satélite e um centro de operações.

Um alto funcionário do serviço secreto americano disse que o governo dos EUA decidiu recentemente ampliar os esforços em curso para combater o regime sírio. "Há um esforço renovado para acabar [com o regime] de qualquer maneira possível", confirmou outro alto funcionário americano, apontando para uma iniciativa mais ampla para bloquear o transporte de certas cargas pelo canal de Suez, controlado pelo Egito.

Esse esforço dos EUA, descrito por autoridades a par dos detalhes, representa uma das poucas medidas concretas que o governo americano tomou para pôr fim a um dos últimos e mais sangrentos conflitos da Primavera Árabe. É um símbolo de uma mudança mais ampla na política dos EUA em relação a conflitos internacionais, de afastar-se de caras campanhas militares e preferir operações diplomáticas e de espionagem.

Alguns membros do governo e do Exército dos EUA acreditam estar colocando pressão sobre Assad. Outros expressaram dúvidas sobre a estratégia. "Está claro que o regime de Assad está perdendo o controle da Síria", disse Tommy Vietor, porta-voz do Conselho Nacional de Segurança da Casa Branca, referindo-se ao atentado da semana passada, em Damasco, que matou vários altos assessores de Assad.

Autoridades dos EUA disseram que o país tem fornecido inteligência sobre o conflito na Síria a militares turcos e jordanianos que colaboram com os rebeldes. Imagens de satélites controlados pelo Exército americano e outros equipamentos incluem detalhes sobre a localização de forças militares sírias que poderiam ajudar os rebeldes a definir seus alvos de ataque.

Elas disseram que a CIA também forneceu inteligência limitada a grupos de oposição e usou informantes para ajudar opositores. A CIA não quis comentar.