Título: Parceria busca soluções para o Brasil
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 24/07/2012, Especial, p. A16

É fácil de imaginar a cena: o escritório fica em um prédio que recebe muito sol pela manhã e, por isso, os funcionários trabalham com as persianas totalmente fechadas. Todas as luzes do ambiente estão acesas. O ar-condicionado vive ligado, mas há muitas janelas abertas, para ventilar o ambiente - um contrassenso completo. "Imagine a quantidade de energia desperdiçada", diz o arquiteto e urbanista Silvio Parucker, um especialista no estudo de construções sustentáveis. O ambiente desastroso em eficiência energética é um caso clássico em prédios de escritórios no Brasil.

O exemplo descrito acima é rotina nos andares do Ministério do Planejamento, em Brasília, e se reproduz nos outros icônicos edifícios da Esplanada. Escritórios ideais, em termos de percurso solar, "têm que ter insolação suficiente, nem muita, nem pouca", explica Parucker. Ministérios como o do Planejamento recebem muito sol pela manhã, o que provoca o uso excessivo de ar-condicionado e luzes artificiais, e o quadro é piorado pelo fenômeno conhecido como "pontes de calor". A radiação absorvida pela fachada passa para vigas e pilares e leva algumas horas para chegar ao interior. "Então, ao meio-dia, há mais calor ainda", diz Parucker.

À época em que Oscar Niemeyer e Lucio Costa projetaram Brasília, há mais de 50 anos, economizar água, coletar chuva, ventilar ambientes de modo natural, usar ao máximo a luz natural e tornar o consumo de energia eficiente, não eram parâmetros em voga como hoje. No Brasil, começaram a ganhar importância bem recentemente.

O acordo de cooperação tecnológica assinado em maio de 2011 entre os governos do Brasil e Alemanha contemplou também as áreas de eficiência energética e ambiente. Nasceu daí o programa "NoPa - Novas Parcerias Brasil & Alemanha", que reúne um grupo de especialistas preocupados em estimular técnicas mais eficientes nos edifícios públicos brasileiros.

Na prancheta de estudiosos brasileiros e alemães estão edifícios em Curitiba, no Rio e em Brasília. "Queríamos trabalhar com obras em regiões climáticas diferentes", explica Parucker, coordenador-adjunto do projeto.

Um dos estudos está sendo feito no Centro Politécnico da Universidade Federal do Paraná, em Curitiba, região de clima temperado. Outro ocorre no palácio Gustavo Capanema, o antigo Ministério da Educação e Cultura, no Rio, lugar de clima tropical úmido. E finalmente a análise do que ocorre nos dez andares do Planejamento, em Brasília, com seu clima tropical de altitude, bem seco. As simulações estão sendo feitas nos laboratórios das universidades federais do Paraná e do Rio, pelo lado brasileiro, e na Technische Universität München (TUM), na Alemanha. Nesse núcleo há também gente dos Ministérios do Planejamento e da Fazenda e pesquisadores do Instituto Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

A ideia é estudar o uso de ar-condicionado, a ventilação natural e apontar opções para melhorar o consumo de energia e água. Parucker já vinha trabalhando com esse tema em sua tese. "Minha ideia é explorar a eficiência energética no conjunto modernista de Brasília", explica.

As análises ainda estão na identificação dos problemas - e no caso de Brasília, as possíveis soluções têm que levar em conta também que os edifícios são tombados pelo Patrimônio Nacional e o plano piloto é Patrimônio da Humanidade da Unesco, o que limita alterações na fachada, no uso de materiais e cores, por exemplo. Mas Parucker dá algumas pistas de soluções usadas em outros lugares.

Edifícios na Alemanha usam em suas vidraças um sistema de células fotovoltaicas em adesivo. "É uma solução interessante porque, ao mesmo tempo, se consegue sombrear uma fachada e produzir energia para o edifício", diz o arquiteto. O uso de vidros duplos também possibilita que o primeiro absorva a radiação e o ambiente não fique superaquecido. O uso de um sistema geotérmico, que traz água quente do subsolo para serpentinas acopladas no piso, poderia ser usado para aquecer edifícios no sul do Brasil, no inverno. (DC)

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