Título: Incertezas rondam o destino da economia na Cuba pós-Fidel
Autor: The Economist
Fonte: Valor Econômico, 08/01/2007, Internacional, p. A7

James Wormold - herói de "Nosso Homem em Havana", romance de Graham Greene de 1958 - é um vendedor de aspiradores de pó convertido em espião relutante. Ele inventa suas fontes e envia desenhos técnicos de aspiradores para Londres supostamente revelando uma instalação militar cubana secreta. Quantos colegas mentirosos terá Wormold na Havana atual. Economistas fora de Cuba prefaciam seus relatórios com advertências de que as estatísticas não são confiáveis - não há fontes dignas de crédito. Hoje, todos concordam em que Fidel Castro está enfermo, mas ninguém parece saber de que mal padece.

Crê-se que ele tenha câncer. Mas o governo cubano nega, afirmando que ele não está sofrendo de qualquer doença terminal. Após submeter-se a uma urgente cirurgia intestinal em julho passado, Castro passou "temporariamente" o poder a seu irmão, Raúl, de 75 anos, iniciando o que agora começa a parecer uma transição permanente. Em dezembro, José Luis García Sabrido, cirurgião espanhol de Castro, "confirmou" que o líder cubano não tem câncer e disse que ele está a caminho de uma recuperação. Mas, numa mensagem de Ano Novo lida em seu nome quatro dias depois, o próprio Castro mostrou-se mais circunspecto e disse que sua recuperação seria "um longo processo".

O líder não aparece em público desde julho, ausente tanto da comemoração de seu 80 aniversário como da celebração do 50 aniversário de sua chegada do México com seus camaradas rebeldes, assinalando o começo da revolução. Seu desaparecimento da cena pública sugere que está doente demais para retomar suas funções. Seja como for, está claro que Raúl está no comando do país.

Embora não tenha o carisma de seu irmão - como comenta um diplomata ocidental em Havana, "Fidel enfeitiçou este país, e enquanto ele não estiver morto e enterrado o feitiço perdurará" -, Raúl esteve intimamente envolvido com a revolução desde o início. Provavelmente nenhum dos outros destacados políticos cubanos o contestará pela liderança. Há muito tempo no comando das Forças Armadas, ele é também vice-presidente. Mas ninguém sabe que rumo Raúl tomará. Os cenários possíveis vão da manutenção do status quo a uma abertura econômica à moda chinesa. É improvável que os dissidentes venham a produzir grande impacto após a morte de Fidel.

Não está claro em que medida os EUA compreendem ou estão dispostos a aceitar isso. Indagado sobre quem, no governo cubano, poderia ser um parceiro para negociações construtivas, Caleb McCarry, coordenador especial de política para Cuba no Departamento de Estado dos EUA, responde com firmeza, "nossos interlocutores são o povo cubano". Mas o povo pode não estar ouvindo. Os esforços propagandísticos do governo americano, como a Rádio e TV Martí, chegam a praticamente ninguém em Cuba, ao passo que o Government Accountability Office, uma agência do Congresso, assinalou em recente relatório que o dinheiro dado a grupos de exilados cubanos em contratos negociados sem concorrência pública está sendo gasto em "PlayStations, suéteres de caxemira, carne de caranguejos e chocolates Godiva".

Em Cuba, a economia caminha bem. As remessas de imigrantes formam uma parte importante da riqueza cubana; acredita-se que entre um terço e dois terços dos 11 milhões de habitantes da ilha recebam dinheiro do exterior. Segundo números oficiais, o crescimento foi de 11,8% em 2005. Até mesmo a CIA estima o crescimento da economia cubana em 8%.

O turismo está em alta. Graças ao alto preço no mercado mundial, o açúcar também ajudou a economia a crescer, apesar da menor safra em mais de um século. E o nível recorde do preços mundiais do níquel, associado a uma bem-sucedida joint venture com mineradora canadense Sherritt International, ajuda muito a economia. Mas os chineses, que aumentaram muito seus investimentos em Cuba, continuam nervosos diante das ineficiências da economia cubana.

A viga mestra da economia cubana, segundo Dan Erikson, do Inter-American Dialogue, é a relação política com a Venezuela. A elevada remuneração por serviços prestados pelos cerca de 20 mil médicos cubanos na Venezuela e os preços subsidiados do petróleo venezuelano equivalem à transferência de bilhões de dólares por ano para Cuba. Não se sabe até que ponto tudo isso é função do relacionamento pessoal entre Hugo Chávez, o presidente da Venezuela, e Fidel. Se esses subsídios persistirem após a partida de Castro, o cubano comum poderá descobrir que a morte do comandante terá pequeno efeito imediato sobre o seu cotidiano. (Tradução de Sergio Blum)