Título: Ajuda à Grécia será decidida em setembro
Autor: Moreira , Assis
Fonte: Valor Econômico, 24/07/2012, Finanças, p. C5

A Grécia só saberá em setembro se poderá receber uma parcela de € 31 bilhoes do segundo pacote de ajuda internacional, correndo de novo o risco de calote em meados de agosto e de estressar ainda mais a zona do euro.

A liberação do dinheiro vai depender da missão de credores internacionais que chega hoje a Atenas para examinar se o país cumpre os planos de ajuste fixados no pacote de quase € 100 bilhões.

A troica de credores - formada por representantes do Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Central Europeu (BCE) e União Europeia (UE) - só apresentará seu relatório aos ministros de finanças no começo de setembro para decidir a liberação de uma parcela de € 31 bilhoes.

Ocorre que antes, até 20 de agosto, o governo grego poderá ser incapaz de honrar os vencimentos de € 5,4 bilhoes de dívida interna e bônus soberanos. Considerando os efeitos de um calote, e com o Mecanismo Europeu de Estabilização não operacional até setembro, a troica precisará discutir como Atenas poderá pagar os compromissos.

Sem esperar as conclusões do relatório da troica, autoridades alemãs continuaram tomando distância em relação à Grécia, com analistas estimando que Berlim "está puxando a tomada" sobre a permanência grega na zona do euro.

"Se a Grécia fracassar no cumprimento das exigências para equilibrar suas contas, então nenhum pagamento mais será feito", advertiu o ministro de economia alemão, Philip Rösler, que diz não acreditar que Atenas cumprirá os compromissos.

Analistas concordam que a Grécia terá dificuldades para obter um relatório favorável da troica. A coleta de impostos está abaixo do esperado, as privatizações não decolam e a contração da economia pode alcançar o recorde de 7,5% este ano.

O FMI recentemente advertiu que o governo perderia a meta para reduzir o déficit público a 3% do PIB em 2014 sem ações adicionais, e parece cético sobre a possibilidade de a dívida pública baixar para 120% do PIB em 2020.

Na quinta-feira, o ministro de finanças, Giannis Stournaras, deverá submeter à troica o programa de medidas de economia de € 3 bilhões até o fim do ano e de outros € 11,5 bilhões até fim de 2014. Demanda adicional de austeridade pode causar nova turbulência política, e deflagrar mesmo uma nova eleição geral no país, advertem analistas.

O governo grego engavetou pelo momento sua demanda de dois anos adicionais, até 2016, para baixar o déficit público a 3% do PIB, diante da reação negativa dos credores. A demanda significaria que a Grécia poderia necessitar de € 40 bilhoes adicionais, o que parece fora de questão - ainda mais quando as atenções estão voltadas para economias maiores em dificuldades, como a Espanha.

Para a corretora Daiwa, "os dias da Grécia na zona do euro parecem contados" se o FMI se opuser ao desembolso da próxima tranche de ajuda e a chanceler alemã Angela Merkel não fizer concessões para flexibilizar o pacote de socorro. O analista Ben May, da consultoria Capital Economics, avalia que a Grécia pode sair da união monetária até o fim do ano.