Título: FMI vê reversão da política monetária no horizonte
Autor: Campos , José Roberto
Fonte: Valor Econômico, 24/07/2012, Finanças, p. C14

O Fundo Monetário Internacional está mais "otimista" a respeito do crescimento futuro da economia brasileira e discorda amigavelmente das autoridades brasileiras sobre os rumos da política monetária. O resumo oficial da avaliação da economia brasileira feito pela direção do FMI, de algumas páginas, é diplomático e traz os pontos de vista do Fundo e réplicas do governo. No relatório do staff da instituição e seus sete anexos, a situação é diferente. Eles afirmam que uma reversão da política monetária já é justificável e o BC precisa estar preparado para fazer isso até o fim do ano, se necessário.

Se a taxa Selic de 8,5% (vigente quando o documento foi confeccionado) for mantida ao longo de 2013, a inflação deve estourar o teto da meta e atingir 7%. A taxa Selic caiu a 8% e pelo menos uma nova redução está no horizonte.

O Fundo prevê recuperação robusta na segunda metade do ano. Isso é uma solução e um problema. Com a economia crescendo um pouco acima de 4%, como no cenário base da instituição, se fecha o hiato do produto - termo que designa a distância que o avanço do PIB está daquele em que não há pressões inflacionárias. Para o FMI, há risco inflacionário quando o PIB brasileiro cresce acima do intervalo que vai de 3,75% a 4,25%. O BC brasileiro coloca o limite entre 4,5% e 5,5%, segundo o FMI.

"Uma pausa no ciclo de afrouxamento é agora justificável e, na ausência de um choque externo adverso, o cenário sugere que as autoridades devem estar prontas para desarmar os estímulos monetários ao longo de 2013 ou antes do fim do ano, se necessário", sugere um dos anexos.

O temor de aquecimento se baseia em um dos pressupostos que o BC brasileiro tem para si e que é visto com algum ceticismo no Brasil. Os economistas do Fundo apontam que os "mecanismos de transmissão da política monetária funcionam com eficiência, com a redução dos juros passando rápida e completamente para as taxas dos empréstimos".

Para saber que crescimento o FMI projeta no caso de as taxas de juros estacionarem em 8,5%, um estudo do apêndice aponta que em algum momento de 2013 a velocidade anualizada da economia baterá nos 7%. Pelas estimativas do staff do Fundo, os juros deveriam voltar à casa dos 10% em 2013, caso se deseje que a inflação fique dentro das metas. Mas o FMI projeta para os próximos anos inflação de 5%, ou seja, sistematicamente acima do centro do regime.

O Fundo reconhece que o balanço de riscos para o crescimento e a inflação é equilibrado. Acredita, porém, que isso se dá em grande parte pela manutenção das metas fiscais em 3,1% do PIB, o que funcionaria de contrapeso à bateria de estímulos já concedidos, considerados "mais que suficientes" para recolocar a economia em sua rota de crescimento. Um dos riscos negativos é, por isso, "derrapagens fiscais" que reduzam a contenção de gastos públicos.

Embora elogie a atitude do BC pela agressiva e necessária redução dos juros, o FMI indica que, levando em conta a experiência passada e também a de 2011, o impacto do corte dos juros é substancial e que os "custos de um erro de julgamento são altos, inclusive a erosão de uma credibilidade duramente conseguida, em um momento em que as expectativas de inflação já estão elevadas".

O staff do Fundo dedicou-se a uma avaliação para discernir se de fato houve uma redução da taxa natural de juros para a economia brasileira - aquela que não freia nem acelera a expansão -, preconizada por membros do BC. A análise conclui que sua tendência é de baixa, mas que há grandes incertezas sobre sua magnitude. Uma estimativa chega aos 4%. Se for essa a taxa neutra, o juro real atual, na casa de 3,5%, já seria inferior a ela.

Esses são alguns dos motivos pelos quais o Fundo deu ênfase à necessidade de estímulos maiores ao investimento e menores ao crédito. O Brasil tem uma crônica falta de poupança. A participação do consumo no PIB, de 80%, é a mais alta dos países dos G-20. O inverso é válido, obviamente, para os investimentos.