Título: Ano será de ajustes na área de defensivos
Autor: Bouças, Cibelle
Fonte: Valor Econômico, 08/01/2007, Agronegócios, p. B10

O segmento de defensivos agrícolas terá de esperar mais de uma safra para voltar a registrar expansão de vendas e de faturamento. As indústrias encerraram 2006 novamente com queda na receita e alto índice de inadimplência por parte de agricultores que compraram agroquímicos mas não pagaram ou renegociaram suas dívidas.

De acordo com levantamento preliminar da Câmara Temática de Insumos Agropecuários do Ministério da Agricultura, o mercado de defensivos fechou o ano passado com receita de R$ 8,38 bilhões, montante 16,7% inferior ao resultado de 2005, quando também houve retração no faturamento, da ordem de 10%.

Cristiano Simon, presidente da Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef), afirma que o resultado do ano passado foi afetado pela falta de liquidez financeira dos produtores, pela redução nos preços dos agroquímicos no país, pelo aumento da competitividade com o lançamento de novos genéricos no mercado e pela menor adoção de insumos nas lavouras nesta safra 2006/07.

"O mercado ainda vai levar tempo para se organizar novamente", afirma Simon. Para ele, é possível que a questão da inadimplência seja resolvida após a colheita e que haja alguma recuperação nas vendas, principalmente em volume. "Neste ano já vamos ter algum sinal de recuperação, mas crescimento só deve ocorrer a partir de 2008 para as indústrias de insumos", afirma.

Ele observa que o resultado de 2007 ainda será contaminado pela decisão de produtores em reduzir a área plantada com soja - a cultura responde por mais de 40% das vendas totais de defensivos no país. "Isso provocou um impacto grande em herbicidas. O aumento da área de cana e algodão não compensou as vendas de herbicidas para soja", diz Simon.

Em 2006, as vendas de herbicidas recuaram 13,2%, para R$ 3,572 bilhões, conforme dados da Câmara Setorial. No período, também houve queda de 26,3% na venda de fungicidas - principalmente devido à decisão de produtores de reduzir o uso contra ferrugem da soja -, totalizando R$ 1,902 bilhão.

De acordo com Simon, o resultado geral também foi influenciado por uma redução entre 15% e 20% dos preços dos agroquímicos promovida pelas indústrias, em virtude da queda do dólar (boa parte dos insumos é importada) e dos estoques.

José Roberto Da Ros, vice-presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Agrícola (Sindag), acrescenta que a decisão do governo federal de acelerar a aprovação dos pedidos de registro por equivalência também deve influenciar a definição de preços. "O setor precisa de novos produtos, que é o oxigênio do nosso negócio. O aumento da concorrência é bem-vindo".

Outro fator que deve influenciar o desempenho financeiro das indústrias no país é o nível de inadimplência dos produtores junto às empresas. Em 2006, do total de entregas aos produtores, em torno de R$ 2 bilhões não foram pagos ou renegociados, o que representa um nível de inadimplência próximo a 24%, de acordo com a Andef.

Em 2005, quando o setor faturou R$ 10 bilhões, o valor das dívidas dos produtores junto às indústrias de defensivos ficou entre R$ 2 bilhões e R$ 3 bilhões, mas a maior parte desse montante foi refinanciado com a liberação, pelo governo federal, de R$ 4 bilhões do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) para prorrogação das dívidas da safra 2004/05.

A renegociação das dívidas referentes à safra 2005/06 pode deslanchar neste ano. Após meses de negociações, o governo federal aprovou a criação do Fundo de Financiamento de Recebíveis do Agronegócio, com recursos do Tesouro Nacional, para lastrear operações com a linha FAT Giro Rural.