Título: Tenho mais o que fazer', diz Lula sobre julgamento
Autor: Cunto , Raphael Di
Fonte: Valor Econômico, 03/08/2012, Política, p. A8

No primeiro dia de julgamento do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal (STF), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) procurou evitar o tema. Passou a tarde em seu instituto em reunião com o marqueteiro João Santana e com o governador de Sergipe, Marcelo Déda (PT).

Na única agenda pública, uma homenagem que recebeu pela manhã de empresários do setor de biocombustível, fugiu do tema no discurso e afirmou, quando questionado por jornalistas, que não assistiria à audiência sobre o mensalão porque quem tem que acompanhar julgamento é advogado e ele "tinha mais o que fazer". "Tenho que trabalhar, meu filho", respondeu.

Ainda com a voz rouca, Lula se mostrou bem-humorado durante o discurso, de quase 30 minutos, feito na homenagem que recebeu da União Brasileira do Biodiesel (Ubrabio), setor beneficiado com o estímulo do governo aos biocombustíveis. Ele fez piadas, defendeu seu governo, criticou a imprensa e ironizou sua condição física, fruto do tratamento de câncer da laringe que fez até o início do ano.

"Tinha medo que vocês estavam pensando que receberiam um cidadão careca, abatido, porque é essa a primeira imagem que a gente tem de uma pessoa com câncer. Então eu vim bonito", brincou o ex-presidente, que estava de terno preto e gravata vermelha. "As pessoas acharam que, com câncer, eu ia parar. Mas estou aqui, inteiraço, para ajudar a companheira Dilma a ser presidente mais uma vez", afirmou.

Para dar mostras da sintonia com a presidente, Lula cobrou solução nos problemas das operadoras, que viraram alvo do governo Dilma - Tim, Oi e Claro tiveram suspensa a venda de novas linhas. "Ontem [anteontem] eu conversava com a presidenta e caiu a linha três vezes. Não pode isso. A sorte é que o Paulo Bernardo [ministro das Comunicações] estava perto e eu pedi pra Dilma falar para ele que precisa consertar esse telefone de qualquer jeito porque [numa viagem] de São Paulo a São Bernardo não pode cair tanto a ligação, sobretudo quando é para falar com a presidente da República", afirmou.

O ex-presidente só se mostrou incomodado com uma inflamação no pescoço, consequência do tratamento quimioterápico, mas que ele também tentou levar na brincadeira. "Se eu não conseguir tirar esse papo com o tempo, ou com drenagem, então vou cedê-lo ao biocombustível."

Na segunda-feira, Lula fará exames de rotina para conferir como está sua saúde e então decidirá em que campanhas políticas atuará. À tarde, ele esteve reunido por duas horas com o marqueteiro João Santana, responsável pela campanha do ex-ministro Fernando Haddad (PT) à Prefeitura de São Paulo, que à noite participou do primeiro debate na TV.

O governador de Sergipe, Marcelo Déda, concordou com a postura do ex-presidente, de ficar alheio ao julgamento. "Não é ele que está sendo julgado", afirmou. O petista diz que não se preocupa com do julgamento nas campanhas eleitorais. "Não tenho dúvida que a oposição vai tentar utilizar, porque ela é um deserto de ideias. Mas o impacto do mensalão na política já foi feito. Não há uma eleição em que esse tema não volte, mas a sociedade é inteligente e soube separar as coisas", afirmou.