Título: Multimercado atrai cada vez mais com juro em declínio
Autor: Fariello, Danilo
Fonte: Valor Econômico, 03/10/2006, EU & Investimentos, p. D2

Trinta fundos multimercados distribuídos entre investidores de varejo captaram R$ 2,1 bilhões de reais ao longo deste ano, segundo dados do site Fortuna. O volume é superior à captação líquida total dos fundos de ações no ano. A queda da rentabilidade nominal das carteiras DI e renda fixa tem levado cada vez mais aplicadores menores para fundos diferenciados. Esses multimercados populares, fundos com mais de mil cotistas, distribuídos por bancos de varejo e até de private banks, atingem hoje patrimônio de R$ 14,9 bilhões.

Segundo cálculos do site Fortuna, esses fundos, nos últimos 12 meses até quinta-feira, apresentam ganho médio idêntico à variação do Certificado de Depósito Interfinanceiro (CDI), referência dos fundos DI, que subiu 16,45%. Nesse período, o Ibovespa apresentou variação similar, de 16,51%. Porém, a diferença de ganho entre as 30 carteiras é elevada. A menos rentável subiu 12,17% e a mais lucrativa avançou 22,49%. Sinal de que a escolha entre elas tem de ser cuidadosa.

A maioria desses fundos é conservadora, para conquistar o investidor que busca rendimento acima dos DI. "Em geral, esse aplicador quer só um pouquinho mais de risco e não quer ser surpreendido com sustos", diz Rodrigo Xavier, sócio responsável pelos fundos do Banco Pactual. "Ninguém começa a investir em multimercados em fundos de tarja preta", completa.

Com perspectiva de continuidade da queda da taxa básica de juros, que atualmente está em 14,25% ao ano, investidores antes confortáveis com os fundos DI e de renda fixa estão à procura de maior diversificação para lucrar mais, diz Luiz Carlos Simão, responsável pela área comercial da Brascan Gestão de Ativos. "O multimercado é instrumento para quem quer um risco controlado, diferente das ações", comenta.

A pessoa física tem procurado com mais intensidade os fundos multimercados conservadores, confirma Xavier. "Essas carteiras têm uma preocupação principal com a conservação de capital em momentos de crise, que, felizmente, não têm ocorrido com grande intensidade desde 2002." O último período em que os multimercados apresentaram prejuízo foi em meados de maio deste ano. No entanto, apesar do susto, em poucas semanas a rentabilidade foi recuperada e, em geral, os fundos não sofreram saques que comprometessem a gestão dos recursos.

A rentabilidade real da taxa de juros ainda é bastante interessante para o aplicador. Arnaldo Santos da Cunha, gestor de renda fixa da Caixa Econômica Federal, por exemplo, projeta para os fundos de renda fixa ganho bruto de cerca de 8% no próximo ano, já descontada a inflação. "Portanto, CDI mais um pouquinho segue como ótima rentabilidade", diz Xavier. Ainda não é possível, para os multimercados mais populares, correr elevados riscos para lucrar mais porque os investidores se assustarão, completa o gestor do Pactual.

O investidor que deixar os fundos DI e renda fixa em busca de um multimercado, ainda que dos mais conservadores, deve ter em mente, contudo, que é preciso ter expectativa de retorno em prazo mais comprido nessas carteiras, comenta Simão, da Brascan. Esses fundos oscilam mais e, portanto, o ganho melhor só é obtido em períodos mais longos, explica ele. Exemplo dessa importância é o fato de, na média, os multimercados populares renderem como o CDI nos últimos 12 meses. "Quanto maior o risco, mais distante deverá ser o horizonte do investimento."

Os investidores têm buscado diversificar as aplicações principalmente em multimercados geridos por mais de uma instituição, oferecidos por bancos de varejo. A Caixa, por exemplo, já captou R$ 45 milhões em menos de seis meses de oferta do fundo Estratégia, que conta com quatro gestores. No período, a carteira supera a variação do CDI. A Brascan foi criada em fevereiro deste ano principalmente para atingir esses aplicadores de varejo, tendo fundos distribuídos por outros bancos. "A procura por mais risco já está em curso e deve aumentar", diz Simão.

Quem gere recursos distribuídos por outras instituições têm um compromisso também com o banco que oferece o produto, diz Xavier. Eles, em geral, também ainda não querem expor seus clientes a riscos elevados.