Título: Venda de espumante dá novo salto mas importado dá medo
Autor: Bueno, Sérgio
Fonte: Valor Econômico, 08/01/2007, Empresas, p. B5

As vendas de espumantes no mercado doméstico estão arrancando sorrisos das vinícolas brasileiras. Embalados pela variedade crescente de marcas, linhas de produtos e preços, os consumidores foram às compras em 2006 e devem garantir o segundo ano consecutivo de recorde de negócios, com uma alta estimada pelas empresas entre 20% e 25% em comparação com o ano anterior, que já havia avançado 23% sobre 2004.

Só em dezembro, o crescimento das vendas chegou a 35% sobre o mesmo mês do ano anterior em algumas vinícolas, como a do enólogo argentino Adolfo Lona, que desde 2004 produz espumantes em quantidades limitadas em Garibaldi, na serra gaúcha. Nas empresas maiores, como a Casa Perini, a alta foi um pouco menor, de 23%, diz o diretor comercial Franco Perini, sem revelar volumes. Na Miolo, a expansão foi em torno de 20%.

Se essas projeções para o ano se confirmarem, as empresas brasileiras poderão encerrar os balanços de 2006 com vendas totais de 8 a 8,4 milhões de litros de espumantes. No ano anterior, conforme a União Brasileira de Vitivinicultura (Uvibra), o volume foi de 6,7 milhões de litros. O total inclui os produtos brut, mais secos, e moscatel, que são mais adocicados e procurados principalmente pelos consumidores que estão "iniciando-se" no contato com a bebida, explica Perini.

Até novembro do ano passado, as vendas já haviam crescido 15,2% em comparação com igual período de 2005, conforme a Uvibra. Isto significa que os brasileiros degustaram 6,4 milhões de litros de espumantes nacionais em onze meses, sem contar os 4 milhões de litros de importados, dos quais 92% são originários da Argentina, Itália e França, pela ordem.

"Cada vez mais o público vem quebrando o paradigma de que espumante é para ser bebido apenas no dia 31 de dezembro à meia-noite. Ele começa a ser visto como um produto para ser consumido no verão", comenta Perini. Sua vinícola iniciou neste verão as vendas no litoral norte do Rio Grande do Sul e a idéia é estender o trabalho para Santa Catarina, São Paulo e Rio de Janeiro nos próximos anos. Outras empresas como Salton e Chandon também adotaram estratégias semelhantes.

O único dado que está ofuscando um pouco o entusiasmo das empresas brasileiras é o crescimento das vendas dos importados, que bateu nos 52,1% de janeiro a novembro. Com isso, a participação desses produtos sobre o mercado total passou de 32,2% em 2005 para 38,5% no ano passado.

O medo dos fabricantes nacionais é que ocorra neste segmento um movimento semelhante ao verificado nos vinhos finos, onde as marcas estrangeiras atendem 68% da demanda nacional.

Mais uma vez o câmbio é o principal vilão, pois a valorização do real acaba barateando os importados. Alguns países ainda oferecem tratamentos tributários mais favoráveis na origem e Adolfo Lona defende abertamente a implantação de barreiras não-tarifárias para proteger a produção brasileira.

"O setor tem que olhar com atenção para os importados", afirma o enólogo, que em todo o ano passado vendeu 50 mil garrafas, 25% a mais do que no ano anterior, e chegou a ter que suspender as entregas de uma de suas linhas de produtos em função do fim dos estoques.

Mesmo com a sombra dos importados, a aposta das vinícolas é que os produtos brasileiros têm qualidade e preço suficiente atrativos para garantir a supremacia no mercado, bem mais do que no caso dos vinhos, e seguir crescendo a taxas superiores a 20% nos próximos anos.

De acordo com a avaliação de Perini, o Brasil disputa com a França a condição de melhores clima e solo para a produção de espumantes no mundo.