Título: Futebol brasileiro fatura alto em 2006
Autor: Sobral , Eliane
Fonte: Valor Econômico, 08/01/2007, Empresas, p. B3

A lista de gols contra é enorme. Vai da vexatória exibição da seleção brasileira na Alemanha à desorganização dos clubes nacionais. Mas, a despeito do placar desfavorável, o futebol brasileiro viveu em 2006 um de seus melhores anos em termos de movimentação financeira.

Só a venda das cotas de transmissão da Copa, do Campeonato Brasileiro e dos regionais comercializadas pela Rede Globo somaram cerca de R$ 1 bilhão, sem considerar descontos aos anunciantes. O valor representou o maior gasto publicitário individual no ano passado. Na conta dos investimentos, só em 2006 a emissora carioca aplicou cerca de R$ 300 milhões na compra de direitos de transmissão de diversos campeonatos - sem contar a Copa do Mundo, pela qual já havia pago US$ 83 milhões.

Como no Brasil, o futebol torna-se, cada vez mais, um espetáculo televisivo e emissoras e canais de TV a cabo especializados em esportes são os responsáveis pelos maiores investimentos na modalidade. O canal SporTV, da Globosat, vendeu as seis cotas de transmissão para o futebol do ano passado por R$ 17,5 milhões, com aumento de 6,6% sobre 2005. E para este ano o preço subiu mais um pouquinho. Quem quiser anunciar no intervalo dos jogos transmitidos pela SporTV vai desembolsar R$ 19,7 milhões. Fred Muller, diretor comercial da Globosat, que opera os canais SporTV, explica que o reajuste engloba, além da inflação do período, a incorporação de mais dois campeonatos: a Copa América e a Taça São Paulo de Juniores.

Feliz da vida com o placar, a Globosat também comemora os resultados da venda avulsa de transmissão de jogos para os assinantes, o chamado pay-per-view. Segundo Elton Simões, diretor de canais Pay-per view e Premim da Globosat, até novembro do ano passado, foram 282.256 pacotes vendidos da primeira divisão do Campeonato Brasileiro - em 2005 foram 275 mil. Como não vive de receita publicitária e depende exclusivamente da venda de pacotes, o Pay-per-view também lucrou com a vendas dos torneios estaduais.

Só o Campeonato Paulista registrou vendas 71% maiores em 2006, quando foram comercializados 77 mil pacotes. O Carioca vem em segundo lugar, com a venda de 74 mil assinaturas - crescimento de 25% sobre 2005. E o torneio Mineiro vendeu 12 mil pacotes, 33% a mais. Mas o troféu ficou com o Campeonato Gaúcho, cujas vendas cresceram 90%, fechando o ano com 19 mil pacotes no ano passado. "2006 foi o ano da nossa consolidação. Os resultados superaram todas as expectativas considerando-se que tivemos a Copa e todos os torneios nacionais e internacionais foram interrompidos", afirma Simões.

Empolgados com os resultados internos, a divisão aposta agora nos brasileiros que moram fora do país e a partir deste ano começa a vender jogos do Brasil para Estados Unidos e Europa. "A meta é ter entre 100 mil e 120 mil assinantes em um ano", diz Simões.

"Estamos há 12 anos no Brasil e 2006 foi sem dúvida o melhor deles para a nossa operação", diz o diretor comercial da Disney & ESPN Media Networks. "Nossa receita aumentou 85% em relação a 2005". Segundo ele, a receita para tamanha expansão foi a combinação de alguns fatores: equipe comercial maior (de 12 para 20 pessoas); o número de campeonatos transmitidos subiu de 12 para 18; e o canal adotou a mesma prática da TV Globo e passou a vender cotas de patrocínio das transmissões para o ano inteiro, sistema que ajuda o anunciante a se programar e o canal a antecipar receita.

O paradoxo desses resultados continua sendo o péssimo desempenho do Brasil na Copa do Mundo. Num ano em que o país do futebol não apenas deixou escapar o sexto título de melhor do mundo como ainda deu vexame com apresentações medíocres, era de se esperar que o torcedor brasileiro quisesse dar um tempo e afastar-se dos gramados. "Eu já esperava que o resultado ruim na Copa impulsionasse os negócios aqui dentro. O torcedor compensou a frustração com a Seleção dando mais atenção ao seu próprio time", avalia Fred Muller, da Globosat.

Os resultados financeiros do Campeão Brasileiro de 2006 traduzem em números a análise de Muller. De acordo com Júlio Casares, diretor de marketing do São Paulo Futebol Clube, a venda de camisas do time bateu recorde em 2006 com meio milhão de unidades vendidas. "Só daí, recebemos cerca de R$ 3 milhões", diz Casares.

Marcelo Campos Pinto, diretor da Globo Esportes - divisão da Rede Globo encarregada de comprar os direitos de transmissão dos campeonatos exibidos pela emissora - informa que para o biênio 2007/2008 a Globo comprou os direitos de transmissão do Brasileiro (cerca de R$ 180 milhões), do Paulista (comprado por R$ 55 milhões, ou 80% a mais do que o valor pago em 2006); e dos jogos amistosos e classificatórios da seleção brasileira cujos valores subiram 15% em relação aos da Copa de 2006.

Apesar dos números, Pinto diz que a Globo mantém o futebol em sua grade de programação mais por ser um programa quase obrigatório do que por sua lucratividade. "Futebol não dá lucro, na melhor das hipóteses empata com os custos", diz Pinto.

Ainda assim, as seis cotas de transmissão que a Globo ofereceu ao mercado para o futebol de 2007 já foram vendidas, antes do prazo final estabelecido pela emissora. Cada uma foi oferecida por R$ 97,4 milhões - sem computar os descontos.