Título: Venda de ações do Nossa Caixa é adiada para governo Serra
Autor: Cotias, Adriana
Fonte: Valor Econômico, 04/10/2006, EU & Investimentos, p. D1

A nova oferta pública de ações do Banco Nossa Caixa vai ficar para o governo José Serra. Após um almoço com o sucessor, o governador de São Paulo Cláudio Lembo anunciou o adiamento da operação. O prazo de reserva teria início hoje. A venda envolveria uma fatia adicional de 20% dos papéis pertencentes ao governo do Estado, conforme autorizado pela Lei 10.853, de 2001. O mercado gostou e as ações ordinárias (ON, com direito a voto) subiram 4,52% na Bovespa, cotadas a R$ 45,05.

Lembo afirmou que a decisão foi tomada na segunda-feira à noite em consonância com o secretário da Fazenda, Luiz Tacca Junior. "Vamos preservar aqueles 20% que seriam vendidos, previstos no orçamento. Porém, eu creio que não é o momento, fim de governo", disse. "Temos de deixar para o governador José Serra as hipóteses de trabalho futuras e eu não quero dilapidar o patrimônio de São Paulo nesse momento."

Para o investidor, um dos méritos da operação estava no aumento da liquidez dos papéis na bolsa, já que o capital em circulação subiria de 28,7% para 49%. Mas a postergação da oferta ficou longe de trazer qualquer desconforto.

"O governo já trocou de mãos e não fazia mesmo sentido fazer a operação no apagar das luzes da atual gestão", diz o economista João Augusto Sales, da Lopes Filho & Associados. "O PSDB, sob o comando do presidente Fernando Henrique, fez praticamente todas as privatizações de bancos públicos e dá para se cogitar que esse será o caminho no Nossa Caixa."

Com a venda de 18,848 milhões de ações mais o lote suplementar, o governo paulista poderia reduzir a sua participação no banco de 71,2% para 51%, mantendo-se no controle. A operação movimentaria cerca de R$ 950 milhões.

Segundo Lembo, a decisão será informada à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) cinco dias antes da conclusão da oferta. O prazo de reserva se encerraria no dia 17 e as ações começariam a ser negociadas na bolsa no dia 19. Ontem, o diretor de Finanças e Relações com Investidores do banco, Rubens Sardenberg, participava de apresentação com investidores em Nova York.

A operação seria finalizada poucos dias antes de o banco completar um ano da abertura de capital. Na primeira oferta, o Nossa Caixa levantou R$ 954 milhões e de lá para cá os papéis subiram 45,3%.

Para Sales, cedo ou tarde a venda vai ocorrer e as perspectivas para o banco são promissoras. Ele lembra que, pelos termos da privatização do Banespa, a folha do funcionalismo será transferida para o Nossa Caixa em janeiro. A instituição herdará cerca de 700 mil novas contas, que se somariam à base de 4,9 milhões de clientes.