Título: Juro futuro segue mais perto previsão da Selic
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 04/10/2006, Finanças, p. C1

O Banco Central incluiu no seu relatório de inflação de setembro um estudo econômico que aponta queda no prêmio de risco cobrado pelo mercado financeiro na curva de juros futuros. Se essa tendência se mantiver ao longo do tempo, poderá fazer com que os altos juros básicos vigentes no país se aproximem no médio e no longo prazos dos percentuais normalmente observados em economias maduras.

Os juros futuros são determinados em dois passos. Primeiro, o mercado procura projetar qual será a trajetória da taxa básica de juros nos meses e anos seguintes. Em seguida, adiciona um prêmio para cobrir o risco de a taxa de juros não se comportar exatamente como o previsto. Esse prêmio é maior em prazos mais longos.

O que o estudo do BC procura demonstrar é que, cada vez mais, os juros futuros são determinados com base na previsão do mercado sobre a trajetória da taxa básica, o que em contrapartida significa que a importância do prêmio de risco tem se tornado progressivamente menor.

No caso dos juros futuros de três meses, por exemplo, as projeções do mercado para a Selic respondiam, entre 2000 a 2002, por cerca de 20% dos juros futuros. Esse percentual vem subindo lentamente nos últimos anos, chegando a 60% no primeiro trimestre de 2006. Em outras palavras, cerca de 60% dos juros futuros são explicados pelas projeções que o mercado faz para os juros básicos. No caso das taxas do mercado futuro com prazo de seis meses, o percentual também melhorou no período, de cerca de 20% para 50%.

No relatório de inflação, o BC não faz uma análise muito aprofundada sobre o que levou à queda do prêmio de risco na taxa de juros futuros. O estudo diz apenas que, "intuitivamente, pode-se argumentar que os agentes (econômicos) incorporaram nos preços dos ativos financeiros a melhora significativa nos fundamentos macroeconômicos brasileiros nos anos recentes."

O tema, porém, já havia sido explorado em outros documentos e pronunciamentos oficiais do BC. Sua tese central é que a redução do prêmio de risco se deve, em grande parte, à política monetária mais cautelosa, que está reduzindo as surpresas inflacionárias. O BC também vem sustentando que aprimorou a comunicação com o mercado financeiro, o que faz com que as decisões de política monetária se tornem mais previsíveis.

Um exemplo bastante ilustrativo, sempre lembrado por dirigentes do BC, é a surpresa inflacionária ocorrida em 2002. Em junho daquele ano, os juros futuros pagavam para o investidor uma taxa nominal de 20,2% ao ano, o que equivale a uma taxa real de 15,2%, considerando a expectativa de inflação então vigente de 4,37% projetada para os 12 meses seguintes. Mas, em virtude da crise das eleições presidenciais de 2002, a inflação efetivamente verificada nos 12 meses seguintes foi de 17,2%. Ou seja, investidores que esperavam receber uma taxa real de 15,2% acabaram, na verdade, ficando com apenas 2,5%.

Os prêmios nos juros futuros são maiores justamente para cobrir riscos como esses. Não por coincidência, nesse mesmo período, em meados de 2002, o prêmio de risco aumentou, e a projeção do mercado sobre a evolução da taxa Selic passou a ser um componente menos importante para explicar os juros futuros. De lá para cá, as surpresas inflacionárias se reduziram, e o prêmio de risco, também.

Além da redução das surpresas inflacionárias, a maior previsibilidade das decisões do BC também contribui para a redução do prêmio dos juros futuros. Gráficos divulgados pelo BC junto com o relatório de inflação mostram que tem diminuído a diferença entre os juros esperados pelo mercado e as taxas efetivamente fixadas pelo BC.

O principal benefício da queda do prêmio de risco é que a taxa de juros que tende a vigorar no logo prazo - a chamada taxa natural de juros - tende a cair também. O BC vem insistindo que, em grande parte, o Brasil tem juros mais altos do que outros países porque há muita surpresa inflacionária. O assunto é controverso entre os economistas. Há teorias que vinculam os altos juros naturais ao risco institucional no Brasil e também à frágil política fiscal do país.